JESUS CRISTO
Samuel Pinheiro
DEUS ENTRE NÓS
DEUS CONNOSCO
O MELHOR DE TUDO
”O melhor de tudo é crer em Cristo” (Luís de Camões)
Este é o meu tema preferido. O tema central em torno do qual tudo gira. A essência da minha mundivisão e da minha cosmovisão. É a partir d’Ele que eu me vejo e que eu me entendo.
Melhor dizendo não é um tema, nem o tema. Jesus é a Pessoa por excelência. Jesus Cristo é Deus entre nós, é Deus connosco. Conhecer a Jesus é conhecer Deus. Ouvir Jesus é ouvir Deus. Obedecer a Jesus é obedecer a Deus. Jesus é a mensagem.
Jesus Cristo é o meu absoluto, o meu tudo. Todo o sentido, razão de ser, propósito e desígnio estão centrados n’Ele. Percebo que a vida não é apenas tempo nem apenas matéria, que as minhas origens estão muito para além do acaso e da energia, por causa d’Ele. Para mim Jesus é muito mais do que Mestre ou do que um Modelo e Exemplo de vida. Mais do que o Mestre, o Modelo e o Exemplo, Ele é o Salvador, o que me tirou e tira de uma vida sem sentido, vazia e condenada à morte. Ele é a fonte da minha esperança. Acredito n’Ele com os olhos abertos e com os olhos fechados. Ele abriu e abre a minha mente muito para além do que eu podia pensar por mim mesmo. Ele dilata os meus horizontes muito para além do que eu poderia ver. Ele expande o meu coração muito para além do que eu podia alcançar através do meu próprio esforço. Ele leva-me a sentir muito mais do que eu seria capaz de sentir contando apenas com a minha capacidade.
Perante Ele não é possível manter a ideia de que a vida é um absurdo, um acidente, produto do acaso, uma viagem do nada para o nada, sob o signo da morte, porque Ele mesmo a Si mesmo se apresentou como a vida. Em Jesus temos a exaltação da vida. Ele é a vida. Ele veio para que tenhamos vida e vida com abundância. Ele é o pão da vida e a água viva que alimenta o esfomeado e mata a sede do sedento. A vida que Ele é e dá, não se restringe ao tempo, é eterna porque é Deus.
Fico a pensar no que seria a vida, o que seria o mundo, o que seria a História se Ele não tivesse vindo, e tenho a nítida impressão de como tudo seria muito mais escuro. Estamos longe de viver no Paraíso, mas com Jesus as coisas mudaram muito e para melhor. Apesar de todos os desvios e atropelos, apesar de todas as distorções e perversidades, apesar de tudo o que fizeram de ruim invocando o Seu nome, ainda assim a História foi empurrada muito para cima com a Sua presença entre nós. Há muito joio no meio do trigo, como Ele mesmo avisou. O inimigo fez isso, mas em breve virá o dia em que o joio será arrancado por quem sabe do assunto, e com Ele estaremos definitivamente em novos céus e nova terra em que a justiça habitará para sempre. Não estamos no Paraíso, mas com Jesus estamos a caminho dele.
Jesus não é apenas o modelo para a nossa vida, não nos ensina apenas a viver, não nos dá apenas a vida, Ele é a própria vida.
Como eu gostaria de ter a capacidade de apresentar Jesus como Ele deve ser apresentado. Como eu gostaria de dominar a palavra de modo a que ela ressaltasse toda a beleza que n’Ele reside. Mas já aprendi, há muito tempo, que ninguém nunca dirá a respeito de Jesus mais ou melhor do que Ele próprio falou de Si mesmo. Nunca a respeito de alguém se escreveu tanto como acerca de Jesus e, no entanto, Ele continua inesgotável. O mais que se possa dizer nunca sobrepujará o que Ele disse. A Sua pessoa continua a alimentar a veia dos artistas, dos pintores, dos músicos, dos escritores, dos poetas, dos filósofos. Mesmo os que O negam ou pretendem distorcer a Sua imagem, ainda assim precisam d’Ele para alimentar a sua reflexão e o seu cepticismo face à vida. Acabam por negar-se a si mesmos porque não têm outra alternativa a oferecer que não a morte, o nada, o vazio, o efémero, a frustração. Não têm nada, nem ninguém, para oferecer como alternativa a Jesus Cristo – o Salvador e o Senhor da humanidade.
A minha maior frustração reside em não ter a coragem e a ousadia suficientes para importunar todas a pessoas à minha volta com a pessoa de Jesus. Tenho a perfeita noção de que não falei d’Ele tanto quanto devia, que fico muito mais calado do que seria desejável, que me falta a sabedoria para colocá-lO diante do olhar do homem de hoje tão intoxicado pela ilusão do efémero, do passageiro e do descartável. Como lamento que não vejamos à nossa volta mais fome do autêntico, do genuíno – de Jesus. Infelizmente a nossa cultura acomodou-se à ausência de sentido e de propósito eternos. Estamos rodeados de uma cultura que privilegia o imediato, o passageiro, o efémero, o temporal, o material e não o espiritual e o eterno.
Levar cada pessoa a Jesus é o privilégio de cada um dos Seus seguidores. O cristão vive para isso, porque ele sabe que é disso que todas as pessoas, antes de tudo, mais necessitam. Daí a razão de Camões, quando escreveu no seu soneto: “O melhor de tudo é crer em Cristo.” Cem por cento de acordo. Depois de tudo na vida, o melhor é Jesus. Tudo sem Ele é nada. Ele é tudo.
Lidando todos os dias com adolescentes e jovens frutos desta cultura do vazio, como é notória a necessidade de uma referência viva que ensine, que estimule, que promova, que alimente uma identidade adequada do ser humano, que oriente os objectivos supremos da vida, que estabeleça a dignidade da existência e da essência humana, que fundamente princípios e valores morais e éticos, que ensine a gostar da vida, que forneça uma verdadeira e sadia auto-estima.
É lamentável que na escola se estude tanto sobre cientistas, filósofos, escritores, romancistas, poetas, artistas, pintores, escultores, arquitectos, músicos, bailarinos, cantores, políticos, economistas e não se considere de um modo atento a pessoa e o ensino da figura incontornável, insubstituível e inultrapassável, suprema, única e exclusiva de Jesus Cristo – O SENHOR DO UNIVERSO E DA HISTÓRIA!
Diante do fracasso humano, face aos comportamentos desviantes, perante as disfunções dos indivíduos e das famílias, no confronto com as múltiplas dependências que fazem do homem um farrapo, é urgente voltar a acreditar em milagres. Mas para isso é preciso abrir os braços, a mente e o coração para Aquele que é capaz de os realizar. Milagres de transformação de vida, milagres de libertação das prisões da morte em vida, do desespero, dos vícios, das dependências, da violência, da indiferença, do imobilismo, da injustiça, do crime, da corrupção.
Para isso precisamos deixar de lado o Jesus religioso, e acolhermos o Jesus dos evangelhos e da história, que andou entre as pessoas, que conversou com os indigentes, que denunciou o egoísmo e a injustiça, que convocou ao arrependimento e à conversão. Precisamos conhecer Jesus tal como Ele se nos apresenta, tal e qual Ele foi crido pelos Seus discípulos. Temos que olhar para Jesus segundo os Seus próprios olhos, segundo as Suas próprias declarações e reivindicações acerca de Si mesmo. Sem a ajuda do Pai, do próprio Jesus e do Espírito Santo não saberemos de verdade quem Ele é. Precisamos ouvi-Lo uma vez mais. Meditar nos Seus ensinos. Sermos interpelados pelos Seus desafios. Incomodados pela Sua vida para vivermos a partir d’Ele e n’Ele. Aprender a amar. Aprender a perdoar. Aprender a servir.
Quando precisamos tanto de sentido e propósito, de amor e de perdão, de verdade e justiça, não há outro que nos possa salvar do pântano em que nos encontramos, que nos seja caminho, verdade e vida.
Ele é o Mestre da Inteligência Espiritual, fundamento essencial da inteligência cognitiva e emocional. A inteligência que nos abre as portas do espiritual, que nos permite enxergar no coração e na mente de Deus, que nos permite entender o plano e o propósito do Criador a nosso respeito, que nos permite perceber a razão e o sentido da nossa própria vida, que nos leva a considerar o nosso real valor e dignidade como seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, que nos leva para lá da matéria e da energia, que nos conduz ao âmago da vida e da essência do ser. Ele mostra-nos as nossas origens, esclarece-nos sobre o que de errado aconteceu e acontece para que estejamos no ponto em que nos encontramos. Ele é a possibilidade de uma reviravolta no processo – podemos mudar de vida! Ele é a esperança da glória. Ele é a graça no meio da desgraça. Ele é a vida face à morte. Ele é o perdão diante da culpa. Ele é a absolvição perante a condenação.
Toda a vida de Paulo estava concentrada em levar o maior número de homens e mulheres a compreender o mistério de Deus – Cristo, como escreve aos colossenses: “Gostaria, pois, que saibais quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face; para que os seus corações sejam confortados, vinculados juntamente em amor, e tenham toda riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros de sabedoria e do conhecimento estão ocultos. (…) porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade.” (Colossenses 2:1-5,9 – JFA) Ainda a estes cristãos Paulo dá a revelação do propósito divino: “E o plano de Deus é que Cristo habite em vós, dando-vos a esperança da glória divina.” (Colossenses 1:27b – Boa Nova). E quando escreve aos coríntios diz: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (1 Coríntios 1:30,31 – JFA) Paulo é um homem absolutamente apaixonado por Jesus Cristo, depois de ter sido um dos Seus mais acérrimos perseguidores e da Sua Igreja. Há esperança para todos os que não vendo Jesus Cristo como Ele de facto é, encontrando-O se tornem Seus dedicados e incondicionais seguidores. Citando Paulo uma vez mais: “Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1:21 – JFA).
HISTORICIDADE DOS RELATOS BÍBLICOS
Como cristãos evangélicos aceitamos a fidedignidade histórica dos registos a respeito da pessoa de Jesus que encontramos nos Evangelhos. Existem hoje em dia muitos tratados que nos mostram as evidências, tanto internas como externas, acerca destes registos. Para quem quer efectivamente certificar-se acerca da validade dos textos que nos são apresentados temos hoje uma vasta bibliografia, mas também não é menos certo de que quem não aceitar a singeleza da afirmação dos escritores bíblicos hoje em dia pode atolar-se em mil e uma opiniões e querelas que são alimentadas e alimentam o cepticismo. No fim cada um encontra o que anda à procura. Eu já decidi que fico com o Jesus da Bíblia toda que é o Jesus da história. Até porque tirar Jesus à Bíblia é ficar sem Bíblia. Tirar Jesus à História é ficar sem Jesus e, pior do que isso, é ficar sem esperança em relação à História.
Para este trabalho interessa-nos sobretudo salientar o testemunho interno dos documentos bíblicos. Cada um pode assumir a posição que muito bem entender perante esta assunto central relativamente ao nosso conhecimento acerca de Jesus. De uma coisa nós temos a certeza, Deus sabe o que move o coração do homem quando ele rejeita as evidências contidas nos relatos que os escritores bíblicos nos deixaram. Se essas pessoas fossem em tudo coerentes com a posição assumida relativamente aos evangelhos, viveriam num autêntico inferno de constante dúvida a respeito de tudo e de todos.
O conhecimento que nos é dado é, para alguns, um conhecimento em primeira-mão, porque eles mesmos foram testemunhas oculares dos acontecimentos, para outros é um conhecimento obtido a partir do testemunho daqueles que os presenciaram e deles participaram. Em qualquer um dos casos é sempre um testemunho em que avulta a inspiração do Espírito Santo que dá garantia da fidelidade do que nos é relatado. Lucas, o terceiro evangelho, é disso um notável exemplo: “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem, para que conheças plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.” (Lucas 1:1-4 – JFA). Este texto é riquíssimo na exposição metodológica que nos faz acerca dos cuidados tidos na recolha da informação e na forma como ela foi tratada. Para quem não quer aceitar a identidade divina de Cristo, certamente que existirão sempre argumentos à mão de semear, para brandir contra a veracidade dos relatos, mas não é necessário ser crédulo ou cego para acolher as narrativas dos evangelhos. Consideramos que a informação é suficientemente fidedigna para que nela possamos depositar a nossa confiança. Não admitir a credibilidade dos textos neotestamentários, é colocar uma premissa que inviabiliza uma parte substancial do nosso conhecimento histórico a respeito do que quer que seja. Não cremos contra a razão mas a favor dela. A razão é levada a crer. Mantemos o nosso princípio de uma fé que pensa e de uma razão que crê. Razão e coração de mãos dadas com a revelação na História de Jesus que se prolonga pela nossa própria história pessoal n’Ele, por Ele e para Ele.
Nas epístolas encontramos um outro testemunho digno de nota que nos é dado pelo apóstolo Pedro, e que corrobora tudo o que encontramos nos demais escritos, até porque encontramos uma notável harmonia e coerência em todos os evangelhos apesar de termos três escritores distintos, com um único propósito, mas escrevendo para um público claramente distinto. “Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela Glória Magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo; e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo. E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações; sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo. (2 Pedro 1:16-21 – JFA).
Atentemos ainda no que o apóstolo João declara na sua primeira carta: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, a respeito do Verbo da vida (pois a vida foi manifestada, e nós a temos visto, e dela testificamos, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e a nós foi manifestada); sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que vós também tenhais comunhão connosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o nosso gozo seja completo. E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e nele não há trevas nenhumas.” (1 João 1:1-5 – JFA).
Parece que o discípulo amado está a escrever para a nossa geração, com toda a sua carga de exigência de evidências científicas. Os termos usados são extremamente fortes e manifestam a constatação dos factos de forma pessoal, directa e objectiva.
A Bíblia assegura-nos que diz a verdade. Muitos dos escritores pagaram com a própria vida a verdade de que falaram e escreveram. Não se tornaram famosos, estrelas de cinema, milionários, aclamados, rodeados de mordomias, investidos de poder económico e político, isentos de problemas e dificuldades. Antes bem pelo contrário. Foram perseguidos, maltratados, rejeitados, torturados e muitos enfrentaram a própria morte. Desta forma deram-nos uma das maiores evidências acerca do que testemunharam.
Finalmente a experiência decorrente da aceitação de Jesus Cristo e do Seu evangelho, reforça em absoluto a convicção acerca da verdade histórica relatada, porque o que aconteceu é o que acontece. Com Jesus inicia-se uma nova vida. Quem tem um encontro pessoal com Jesus, quem passa pela experiência do novo nascimento, quem conhece a Cristo de forma pessoal, sabe em quem crê e está disposto a dar a própria vida pelo que acredita. Não mata, está disposto a morrer. Trata-se não de intolerância, mas de certeza. A verdade objectiva dos factos históricos entrelaça-se com a verdade subjectiva da experiência pessoal e da verdade objectiva dos resultados vividos aqui e agora, para lá da esperança única que nos anima a caminho da glória eterna.
REVELAÇÃO PESSOAL DE DEUS
É Ele que nos revela pessoalmente Deus o Pai. Sei de certeza absoluta que Deus existe por causa d’Ele. Diante da sua pessoa não tenho dúvida alguma de que Deus existe. É Ele que me mostra o rosto do Pai. É por Ele que sei quem Deus é e o que Deus quer. “Ninguém jamais viu a Deus: o Deus unigénito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” (João 1:18 – JFA). A Bíblia é clara sobre a inacessibilidade de Deus aos sentidos humanos, conforme Paulo escreve ao seu discípulo Timóteo: “o único que possui imortalidade, que habita em luz inacessível, a quem homem algum jamais viu, nem é capaz de ver. A ele honra e poder eterno. Amem.” (1 Timóteo 6:16 – JFA). E como o próprio Deus declarou a Moisés no Antigo Testamento, quando este pediu para ver a Sua glória: “Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá.” (Êxodo 33:20 – JFA). Aquele que não podemos ver, Aquele que é invisível para a nossa presente condição pecaminosa, Aquele que nos foi encoberto e oculto por causa do nosso pecado, esse tornou-se visível, palpável para nós em Jesus Cristo. Olho para Jesus e vejo Deus. Ouço Jesus Cristo e ouço Deus. Sigo a Jesus Cristo e sigo a Deus. Obedeço a Jesus Cristo e obedeço a Deus. Amo a Jesus Cristo e amo a Deus. Adoro a Jesus Cristo e adoro a Deus. Através de Jesus Cristo chego ao Pai e tenho o Espírito Santo habitando em mim.
Sabemos quem Deus é quando conhecemos a Jesus Cristo, Ele nos revela de forma tangível a Sua pessoa: “E o Verbo se fez carne, e habitou ente nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigénito do Pai.” (João 1:14 – JFA). A santidade de Deus vê-se em Jesus Cristo. O amor de Deus sente-se em Jesus Cristo. A justiça de Deus mostra-se em Jesus Cristo. O perdão de Deus recebe-se em Jesus Cristo. Este texto da Escritura é chave para entendermos a dimensão de Jesus Cristo entre nós. Deus vem ao nosso encontro. Não somos nós que procuramos a Deus quando O tentamos fabricar com a nossa imaginação. Ele é muito maior do que podemos intuir por nós mesmos, apesar de termos dentro de nós essa fome e sede do divino, do nosso Autor, do nosso Criador. Em Jesus nós temos Deus e podemos ver a Sua glória, bem como podemos ser atingidos e usufruir da Sua graça e da Sua verdade. A graça emana de Jesus. Não temos que conquistar nem merecer. A verdade é o próprio Senhor Jesus Cristo. Não perseguimos uma verdade ideológica e filosófica, nem moral ou ética, mas uma Pessoa. Nela temos a verdade de toda a existência, de toda a História, de todo o Universo, da eternidade – a verdade absoluta, imutável e universal. Em meio a todo o ruído religioso foquemos a nossa atenção em Jesus, deixemos que Ele domine a nossa razão e o nosso coração. Não é possível conhecer a verdade sem conhecer o seu Autor, particularmente no que diz respeito a nós porque fomos criados à Sua imagem e semelhança. Podemos saber muito de nós mesmos por nós mesmos, mas nunca atingiremos o âmago na sua essência e desígnio sem conhecermos o Criador. Jesus é a verdade!
Deus sempre se deu a conhecer à humanidade, mas agora Ele o faz de forma pessoal e directa: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exacta do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles.” (Hebreus 1:1-4 – JFA).
A visibilidade de Deus em Cristo é o tema por excelência do Novo Testamento. O apóstolo João na sua primeira carta é extremamente preciso e tocante nos termos que usa em relação à presença de Deus entre nós: “Escrevemos acerca daquele que é a Palavra da vida, que já existia no princípio de tudo. Nós, que o ouvimos e vimos com os nossos próprios olhos, também o contemplámos e lhe tocámos com as nossas mãos. A vida deu-se a conhecer e nós vimo-la. Falamos dela e vo-la anunciamos. É a vida eterna que estava com o Pai e que nos apareceu. O que nós vimos e ouvimos vos anunciamos agora para que estejam também unidos a nós. Na verdade, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. Escrevemo-vos isto para que a nossa alegria seja perfeita.” (1 João 1:1-4 – JFA). Deus audível. Deus visível. Deus palpável. Deus comunicável. Deus que nos une e nos põe em comunhão. Deus fonte da nossa alegria.
É em torno desta revelação que se move a vida do apóstolo Paulo: “Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhe não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos mas a Cristo Jesus como Senhor, e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz -, ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo.” (2 Coríntios 4:3-6 – JFA).
Hoje o pluralismo religioso pretende convencer-nos de que Deus tem muitos nomes e rostos, personalidade e carácter distintos, até opostos e contraditórios. Respeitando todas e cada uma das confissões religiosas, não afinamos decididamente por esse diapasão. Existem ideias de Deus perfeitamente execráveis. Sou profundamente ateu em relação a muitas ideias acerca de Deus. Só conheço um, entre nós, a quem posso efectivamente confessar como Deus. Não é descoberta minha, é apenas a aceitação de todo o peso de evidência que está por detrás da Sua pessoa singular. Aceite ou não, reconhecido ou não, as Suas declarações continuarão aí e ninguém as pode apagar, como ninguém pode ofuscar a luz do Sol ou escondê-lo.
A existência e a essência de Deus não é uma questão de opinião pessoal ou particular, cultural, filosófica ou religiosa. A existência e a essência de Deus é, antes de tudo o mais, uma questão de revelação e de revelação pessoal, para lá de hoje ela se nos apresentar de forma escrita. Pessoal em Jesus Cristo, e pessoal quando O acolhemos e experimentamos na nossa própria vida. Pensamos que é possível ao homem pela sua razão ter algum vislumbre, tanto da existência quanto da essência de Deus. Esse vislumbre ainda é uma dádiva da revelação divina da qual a razão e o coração do homem estão impregnados como imagem e semelhança do Criador. Mas é em Jesus que nós temos a plena revelação acerca da existência e da essência de Deus, na Sua personalidade e carácter. Conforme o apóstolo Paulo declara: “Porque Deus está totalmente presente em Cristo, de forma corporal.” (Colossenses 2:9 – Boa Nova).
Jesus disse-o claramente aos discípulos e entre eles a Filipe quando pediu para que lhe mostrasse o Pai: “Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. Replicou-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta. Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai que permanece em mim faz as suas obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.” (João 14:7-11 – JFA).
Hoje como ontem, mesmo visível, muitos não querem crer, não porque não tenham as evidências necessárias, mas porque não querem. E quando não se quer, nada é suficiente. “Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede. Porém, eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes.” (João 6:35,36 – JFA).
Não basta acreditar em Deus, precisamos estar cientes do Deus em que efectivamente acreditamos. Jesus Cristo veio até nós declarando-se como Deus. Nada n’Ele faz sentido se negamos a Sua divindade.
O modo como entendemos Deus está muito relacionado com a forma como vivemos, como agimos e reagimos, com o projecto de vida que abraçamos. Existem muitas vezes incongruências, desajustamentos, hipocrisias. Mas, de uma ou outra forma, contemplar Deus na pessoa de Jesus Cristo, e responder afirmativamente ao Seu desafio, transforma-nos. Somos transformados por Ele na medida em que O recebemos em nós.
Jesus conhece-se no relacionamento pessoal. Cristianismo é antes de tudo o mais relação com Deus através da pessoa de Cristo. É nessa e por essa relação que somos mudados, que Deus se torna real na nossa vida, que a esperança nos toma, que o amor nos inunda, que o perdão nos alcança, que o Criador nos serve a vida eterna.
REVELADO PELO ESPÍRITO
O Espírito Santo foi-nos concedido para nos dar a conhecer a pessoa de Jesus. Há uma dimensão histórica, factual que de alguma maneira a nossa razão pode alcançar, perceber e entender, mas a percepção, a convicção da identidade divina de Jesus depende da nossa abertura e dependência da iluminação do Espírito Santo no nosso homem interior. É Ele que abre os nossos olhos para percebermos, efectivamente, quem Jesus é. “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” (João 16:13,14 – JFA).
Esta é uma acção concertada com o Pai. Quando a uma pergunta de Jesus, Pedro respondeu acerca da verdadeira identidade e natureza de Jesus, Ele declarou que essa conclusão não era natural mas espiritual, sobrenatural, resultado da revelação do Pai. “Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus.” (Mateus 16:15-17 – JFA).
Deus sabe quem nós somos, conhece a atitude dos nossos corações, discerne de modo rigoroso e preciso qual a nossa predisposição face a Jesus Cristo. Neste sentido Ele esclarece-nos ou mantém-nos obscurecidos. Ele sabe se queremos ou não conhecer. A todos quantos O buscam, de todo o seu coração, Deus se dá a conhecer. À luz deste facto não nos admira que alguns se mantenham cépticos e até se entretenham a distorcer a Sua figura. A tendência não é nova. Ela já estava presente entre os contemporâneos de Cristo. O coração do homem revela-se diante da postura que assume perante a pessoa e o ensino de Jesus. Ele não obrigou ninguém a recebê-lO e a aceitá-lO, embora tenha alertado para as consequências presentes e eternas que daí advêm. É nesta linha de pensamento que se entendem bem as palavras de Jesus, citando o que já estava anteriormente profetizado: “Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles. E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías: Senhor, quem creu em nossa pregação? e a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Estas coisas disse Isaías, porque viu a sua glória, e dele falou. Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele; mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga; porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus.” (João 1235-43 – JFA).
O centurião Cornélio, a quem Deus enviou Pedro com o intuito de partilhar com ele a pessoa de Jesus Cristo, é um exemplo da forma como Deus se revela a todos quantos estão receptivos, na sua razão e coração, a conhecê-lO: “O centurião Cornélio, homem recto e temente a Deus, e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras.” (Actos 10:22 – JFA).
Da mesma forma aconteceu com o etíope eunuco, mordomo-mor da rainha de Candace, quando regressava a sua casa depois das celebrações em Jerusalém, e ao qual Deus enviou o Seu servo Filipe. “Um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Ele se levantou e foi. Eis que um etíope, eunuco, alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todo o seu tesouro, que viera adorar em Jerusalém, estava de volta, e, assentado no seu carro, vinha lendo o profeta Isaías. Então disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro, e acompanha-o. Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías, e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me explicar? E convidou Filipe a subir e a sentar-se junto a ele.” (Actos 8:26-31 JFA).
Também Paulo de Tarso acaba por ser um exemplo desta actuação divina, quando respirando ameaças e afrontas, perseguição e morte contra os cristãos, foi surpreendido por Jesus Cristo na estrada de Damasco. “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote, e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos a Jerusalém. Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas, levanta-te, e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer.” (Actos 9:1-6 – JFA)
Jesus Cristo deu a entender de uma forma muito clara que o Pai é o responsável por todos aqueles que a Ele se dirigiam, e que a todos esses Ele acolhia e guardava. Não que Deus faça acepção de pessoas, mas porque Deus sabe efectivamente quais são aqueles que estão disponíveis para serem recebidos e acolhidos: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:37-40 – JFA).
Várias são as razões que levam os homens a não reconhecerem a divindade de Jesus Cristo. O próprio Jesus declarou aos seus contemporâneos que todos os que querem fazer a vontade de Deus recebem-nO e acolhem o Seu ensino: “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso não me dais ouvidos, porque não sois de Deus.” (João 8:47 – JFA). Outra razão da incredulidade das pessoas, reside no facto de que elas estão mais interessadas na aprovação dos homens do que na aprovação de Deus: “Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros, e contudo não procurais a glória que vem do Deus único?” (João 5:44 – JFA).
João é bem explícito quando na sua primeira carta afirma: “Nós somos de Deus; quem conhece a Deus nos ouve; quem não é de Deus não nos ouve. assim é que conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4:6 – JFA).
EXISTENTE ANTES DE NASCER
A pré-existência de Jesus Cristo era um assunto difícil de engolir pelos seus contemporâneos e conterrâneos que conheciam a sua genealogia humana, sabiam quem era a sua mãe e o seu pai adoptivo, bem como os seus irmãos. Hoje a situação não se alterou. Existem muitas pessoas para quem a pé-existência de Jesus Cristo é uma impossibilidade dentro dos limites que se auto-impõem pelo naturalismo e pelo materialismo. Para eles trata-se de uma impossibilidade, porque apenas admitem como possível o que sabem e o que conhecem. Não estão disponíveis a ir mais longe.
Algumas pessoas ainda admitem que Ele possa ser um extraterrestre originário de uma outra civilização. Acredita-se em extraterrestres, mas não se acredita na reivindicação do próprio Cristo que já existia antes de nascer e veio das alturas. A razão é simples e reside na Sua divindade. Aceita-se uma outra civilização extraterrestre, mas não se reconhece Deus e a Sua criação angélica. É que Deus coloca-nos perante a nossa responsabilidade espiritual e moral, coloca-nos na condição de criaturas, leva-nos à adoração e o pecado humano não suporta isso. O pecado é precisamente o oposto. O homem quer uma solução técnica e não arrependimento e conversão.
Jesus não apenas insinuou, mas foi peremptório relativamente à Sua existência anterior à Sua manifestação terrena. “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.” (João 8.58 – JFA). Antes disso já João Baptista, o seu percursor o referira: “Após mim vem um varão que tem a primazia, porque já existia antes de mim.” (João 1:30 – JFA).
Ele é desde a eternidade e por toda a eternidade como Deus, com o Pai e o Espírito Santo. Esta é a revelação que perpassa particularmente por todo o Novo Testamento. No último livro da Bíblia Ele se nos apresenta como o Primeiro e o Último, o Alfa e o Ómega: “Eu sou o Alfa e o Ómega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há-de vir, o Todo-Poderoso.” (Apocalipse 1:8); “eu sou o primeiro e o último” (Apocalipse 1:17b – JFA); “Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim.” (Apocalipse 21:6 – JFA). N’Ele toda a História encontra o seu sentido e razão de ser.
Tudo na vida de Jesus concorre no sentido de percebermos e acolhermos a verdade central da Sua essência divina, embora na forma humana, de modo a que nos fosse possível alcançá-la. Em Jesus o Deus eterno veio ao nosso encontro.
O CRIADOR QUE SE FEZ CRIATURA
Jesus é-nos apresentado no evangelho de João como o Criador. Nada do que foi criado o foi sem Ele. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.” (João 1.1-5 – JFA).
Paulo fala disto mesmo quando se dirige por carta aos cristãos em Colossos: “dando graças ao Pai que vos fez idóneos para participar da herança dos santos na luz, e que nos tirou do poder das trevas, e nos transportou para o reino do seu Filho amado; em quem temos a redenção, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o primogénito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus.” (Colossenses 1:12-20 – JFA).
Obviamente que entre toda a criação se destaca a pessoa humana que o texto bíblico declara foi criado à imagem e semelhança de Deus. Esta é a nossa identidade. Deus não nos criou segundo um modelo de segunda mão, ou seja segundo uma outra obra Sua. Nós fomos criados segundo a imagem e semelhança do próprio Criador. Fomos criados a partir do “modelo original”. Fomos concebidos a partir da imagem e semelhança do próprio Deus, não podíamos exigir mais do que isso, porque não há ninguém acima de Deus – Ele é o supremo, o único. Somos “parecidos” com Deus. O pecado desfigurou essa semelhança, mas agora por Jesus Cristo aos sermos feitos filhos de Deus, recebemos espiritualmente da Sua natureza. “Visto como pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas para que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo, (…).” (2 Pedro 1:3,4).
Mas a história humana está marcada pela corrupção dessa imagem e semelhança, por causa da desobediência. Jesus Cristo ao encarnar trouxe de volta a verdadeira imagem e semelhança de Deus, e realizou o que Deus determinou necessitava ser feito para que o homem pudesse ser filho de Deus. Como alguém declarou com muita propriedade – Deus se fez homem, para que o homem pudesse ser filho de Deus.
Olhando para Jesus Cristo não apenas vemos o Deus verdadeiro, como conhecemos o Homem genuíno.
O debate trava-se hoje em dia mais em torno do modo como viemos a existir, do que do sentido e da razão para os quais fomos criados. A controvérsia científica ou filosófica pode ter o seu interesse mas, de uma forma transversal em toda a Bíblia, o que interessa é que não tenhamos dúvida alguma que saímos das mãos de Deus, que fomos criados por Ele e para Ele, que temos a Sua impressão digital no coração, que somos um espírito, temos alma e habitamos num corpo. Somos pessoas porque fomos criados por Deus à Sua imagem e semelhança. Temos valor porque somos criação divina. Recusamos absolutamente o evolucionismo naturalista e materialista, porque ele nos rouba o que é essencial na nossa identidade. Temos a marca de Deus.
DEUS NA HISTÓRIA
Deus habitou entre nós. Deus pisou esta terra. Deus sabe o que é ser criatura. Deus contactou pessoalmente com o resultado da separação, da rebelião, da arrogância, da soberba, do egoísmo, numa palavra do pecado. Deus criou e encarnou na dimensão da Sua criação. A imagem e semelhança que nós somos, Deus a tomou sobre Si. Não temos de que nos queixar diante de Deus sobre a nossa estatura, a nossa dimensão, a nossa essência, a nossa existência, a nossa natureza, a nossa vocação. Não podemos lançar no rosto de Deus que Ele não sabe o que é viver numa casa de pó, de barro, material, física. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (João 1.14 – JFA).
Segundo o testemunho de João Baptista Ele é o que veio das alturas e está acima de todos: “Quem vem das alturas certamente está acima de todos; quem vem da terra é terreno e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos e testifica o que tem visto e ouvido; contudo ninguém aceita o seu testemunho. Quem, todavia, lhe aceita o testemunho, por sua vez certifica que Deus é verdadeiro. Pois o enviado de Deus fala as palavras dele, porque Deus não dá o Espírito por medida. O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos. Por isso quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3:31-36 – JFA). É interessante verificar que segundo o texto a aceitação antecipa a certificação. Quem não quer aceitar nunca vai comprovar.
O próprio Jesus mais tarde o haveria de declarar de forma peremptória: “Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou. Por isso eu vos disse que morrereis nos vossos pecados; porque se não crerdes que eu sou morrereis nos vossos pecados.” (João 8:23,24 – JFA).
Mas Deus sabe ainda mais, porque Ele conhece a nossa estrutura decaída, embora nunca tenha pecado. Ele enfrentou a tentação do Diabo, da potestade do mal e da cultura, da sociedade, do mundo presente. O Deus encarnado foi tentado como nós o somos, e muito mais do que nós. “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo.” (Mateus 4.1 – JFA).
Deus na forma humana viveu na dimensão física as limitações, as fragilidades, as contingências, as necessidades provocadas pela queda da humanidade, fruto da desobediência. Ele sabe o que é ter fome e sede, o que é sentir o cansaço, o que é ser rejeitado, o que é ser condenado injustamente, o que é a traição, o que é a morte.
Deus sabe o que é passar pelo vale da sombra e da morte.
Deus que em consonância com a Sua natureza santa, amorosa e justa, criou tudo o que existe e determinou o ambiente de inocência e de liberdade em que era suposto vivermos, sem tentação, sem o conhecimento do bem e do mal, envolvidos pela santidade, pelo amor e pela justiça divinas. Deus que estabeleceu as consequências da transgressão humana, da inimizade contra Deus e uns com os outros. Esse mesmo Deus chamou a Si a expiação do pecado de toda a humanidade. Na cruz Ele levou sobre Si as nossas transgressões e iniquidades, a nossa mentira, o nosso egoísmo, a nossa depravação, a nossa insensibilidade, o nosso egoísmo, numa palavra, o nosso pecado.
GENEALOGIA HUMANA
Os evangelistas Mateus e Lucas apresentam-nos a genealogia humana de Jesus Cristo mostrando-nos a Sua linhagem, as suas raízes humanas. Dela fazem parte pessoas comuns, algumas delas com um perfil bem pouco recomendável para fazerem parte dos ancestrais do Deus encarnado. Desde o início e através de toda a História, Deus foi um Deus de graça, que nos aceita como somos para fazer de nós o que sempre foi o Seu plano – imagem e semelhança, sendo Seus filhos.
Por criação somos inevitavelmente criação de Deus. Não há como escolher. Por iniciativa humana a condição em que nos encontramos é de criação caída. Mas Deus nos dá a possibilidade de em Jesus Cristo escolhermos ser filhos de Deus, de certo modo parte da linhagem de Jesus Cristo no sentido espiritual, nascendo de Deus. Jesus sendo o Filho unigénito do Pai tornou-se, pela Sua morte e ressurreição, no Filho primogénito, o primeiro, sempre inigualável na Sua natureza divina entre muitos irmãos – todos os que O recebem como Salvador e Senhor.
Ao encarnar Deus aceitou assumir uma linhagem de pessoas decaídas, todas elas pecadoras e algumas delas sem serem judeus. Nessa linhagem Jesus surge sem pecado original, vivendo sem pecado, morrendo pelos pecados de toda a humanidade e ressuscitando em vitória sobre o pecado de modo a que todos os que O recebem vivam sem mais condenação. De uma forma nítida fica evidente a universalidade da graça divina.
Para Deus não importa o que fomos, mas o que podemos ser no Seu Filho.
UM NOME ESPECIAL
O Seu nome, desde o início, indica a Sua missão entre nós – JESUS: porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados. Ele veio para isso. Somos Seu povo quando acolhemos a Sua salvação, quando acedemos ao Seu convite, quando aceitamos o Seu dom, melhor dizendo ainda, quando O aceitamos a Ele mesmo. “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, ela se achou ter concebido do Espírito Santo. E como José, seu esposo, era justo, e não a queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projectando ele isso, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, pois o que nela se gerou é do Espírito Santo; ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mateus 1.18-21 – JFA)
De cada vez que balbuciamos o nome JESUS, de cada vez que o escrevemos ou o lemos, mesmo que seja da escrita de um ateu ou de um agnóstico, estamos a tomar contacto com a verdade central da História da salvação: “ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Ele é o Salvador! Há salvação! Há esperança! Não mais a morte, o nada, o acidente, o acaso, o silêncio do passado e do futuro eternos. Deus existe e veio ao nosso encontro. Somos filhos pródigos e Jesus veio para nos levar de volta ao Lar.
Foi desta forma que João Baptista o introduziu estabelecendo uma ponte entre a figura do cordeiro providenciado em lugar de Isaque, o cordeiro da Páscoa judaica que marca a libertação do cativeiro egípcio e o cordeiro dos sacrifícios instituídos que prefiguravam o que só Jesus haveria de realizar definitivamente a favor de todos homens, judeus e gentios, em todos os tempos, em todas as épocas e em todas as geografias: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1:29 – JFA) Em e por Jesus o pecado seria removido. Desde então não temos que viver sobre o seu domínio e a sua penalidade.
DENUNCIANDO A ESSÊNCIA DO PECADO
Jesus foi concebido sem pecado. A sua natureza humana era sem mácula e foi por Ele mantida sem mácula, apesar das inúmeras investidas no sentido de pressioná-lO a desviar-se da vontade do Pai, do propósito para o qual havia vindo.
O próprio Jesus diante dos religiosos desafiou-os a encontrarem n’Ele algum vislumbre pecaminoso. Este repto foi colocado perante peritos em identificar o pecado dos outros em função da lei de Moisés, bem como dos costumes e tradições religiosas. “Quem dentre vós me convence de pecado? Se digo a verdade, por que não me credes?” (João 8.46 – JFA). A parte curiosa é que hoje em dia e ao longo da história, quem não crê sequer na existência do pecado, tenta de uma ou de outra forma apontar pecados em Cristo. A análise distorcida dos relatos até que pode dar a impressão de sucesso na tarefa, mas quem a empreende acaba por nunca estar convencido da sua própria conclusão, até porque das duas uma, ou não acredita na possibilidade da existência do certo e do errado, e portanto do pecado, ou se quer colocar no lugar de Deus como legislador da consciência alheia, em quem diz não acreditar. Pela parte que nos toca consideramos que Ele é perfeito e é pela perfeição d’Ele que queremos pautar a nossa vida na convicção absoluta de como seriam diferentes as nações, as sociedades, as famílias e os indivíduos se vivêssemos de acordo com o amor, o perdão e o serviço manifestos em Cristo. Se tivéssemos pais no modelo de Cristo como seriam diferentes as nossas famílias. Se tivéssemos políticos no modelo de Cristo como seriam diferentes os governos. Se tivéssemos cidadãos no modelo de Cristo como seriam diferentes as nações.
O Evangelho narra um confronto com os religiosos, a propósito de uma mulher apanhada no próprio acto de adultério, e arrastada por estes até Jesus. O único sem pecado e que poderia condenar a mulher, expôs diante da consciência dos religiosos legalistas o pecado deles, e encaminhou de volta a mulher determinando-lhe que não pecasse mais. “Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse-lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé. Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.” (João 8.3-11 – JFA).
O que é o pecado senão essa chaga aberta no ser humano, na sua essência, no seu coração, de desconfiança em relação a Deus, de encarar Deus como inimigo, de querer ser Deus contra Deus, em oposição a Deus, querendo usurpar de Deus os princípios segundo os quais o homem foi criado como um ser espiritual e moral, de perverter o que é a liberdade. O que é o pecado senão essa inimizade do homem contra Deus, que se volta contra si e contra os outros. O pecado envenenou toda a existência humana. O pecado que é essa loucura de querer viver ao contrário do Criador, a revolta do homem contra Quem o criou e sustentou com todo o amor, carinho e atenção. O pecado que é, em termos simples, errar o alvo para o qual fomos criados; por oposição à santidade que é ser separado por Deus para o Seu propósito.
A salvação é Deus revelando-se na História em toda a Sua santidade, perfeição, amor, justiça e perdão. O pecado mostrou-nos que Deus tinha razão, que Deus é Deus, que Deus é santo, que Deus é amor, que Deus é justo. Jamais alguém terá a possibilidade de enganar quem efectivamente conhece a Deus de modo pessoal. Acreditamos n’Ele aconteça o que acontecer. Tudo o que acontece pode fortalecer a nossa confiança e dependência d’Ele. Por isso tudo contribui para o bem daqueles que O amam.
O que eu quero dizer é que, diante de Jesus, nós temos uma clara definição das verdades espirituais essenciais à nossa vida como é, entre outras, a que diz respeito ao pecado. Porque sendo homem e sem pecado podia salvar os pecadores. Como Deus pode levar-nos de volta a Deus.
O pecado é o negativo do que encontramos na personalidade e no carácter de Jesus. Em Jesus encontramos o Justo, o único Homem sem pecado que viveu nesta terra.
Consideramos que, antes de tudo o mais, encontramos na humanidade de Jesus a perfeita intimidade com o Pai e o Espírito Santo, e que é precisamente o oposto do que o pecado é e representa. Porque o pecado é separação, corte de relação, oposição. Depois o pecado é errar o alvo do plano e do propósito para o qual existimos. Em Jesus o ser e a vida vivida estão em absoluta sintonia. Em último lugar o pecado é transgressão, desobediência, rebeldia. Em Jesus temos a plenitude da obediência, de uma vida vivida em plena harmonia com a vontade de Deus.
Como pecadores temos horror à obediência, e por contra-senso somos escravos do pecado e das potestades do mal. Para Deus, em Jesus Cristo, a obediência é espontânea e “natural”, faz parte da Sua própria essência. Jesus Cristo tem absoluto compromisso em viver em plena obediência ao Pai, mesmo quando isso implica a crucificação. “E adiantando-se um pouco, prostrou-se com o rosto em terra e orou, dizendo: Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mateus 26:39 – JFA).
Jesus mostrou-nos o que é uma vida sem pecado, e por causa disso mesmo tinha a possibilidade de sobre Si assumir as consequências do pecado humano, libertando-nos do seu domínio e da sua penalidade.
OUTRO NOME SINGULAR E EXCLUSIVO
Ele é chamado também de Emanuel – Deus connosco. Deus nunca foi um Deus longínquo, distante, de costas voltadas para o homem. “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus connosco.” (Mateus 1.23)
Foi o homem que se escondeu de Deus. Foi Deus que foi no encalço do homem e ao longo de toda a História nunca desistiu de se revelar e encontrar com cada uma das suas criaturas, até ao ponto em que, no momento por Ele determinado desde a eternidade, deixou o Seu lugar de glória e majestade, vestiu-se de carne e andou entre nós como Homem. A nova era será marcada pela habitação de Deus com todos os que em Jesus Cristo foram com Ele reconciliados. “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra, e o mar já não existe. E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve; porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: está cumprido: Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida. Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.” (Apocalipse 21:1-8)
Mas a partir de Jesus Cristo, Deus não é mais um Deus oculto. Deus tornou-se visível na medida em que nós O podemos ver. Ele se restringiu voluntariamente para que nós O pudéssemos tocar.
E Deus se fez connosco, para que hoje esteja em nós. Ele é Deus em nós pelo Seu Espírito. Tal nunca teria sido possível sem a vinda de Jesus Cristo como caminho que nos leva ao Pai.
O céu, a eternidade, a nova era, depois do tempo presente dominado pelo pecado, será marcado pela habitação de Deus com os homens. Como no princípio. Não mais em conflito entre o bem e o mal, mas fluindo, existindo, movendo-nos na santidade de Deus.
REIVINDICANDO IDENTIDADE DIVINA
Pode-se dizer que a questão da identidade divina de Jesus Cristo domina toda a Sua existência terrena, e que essa identidade domina tudo o que Ele representa para nós. “Tendo Jesus chegado às regiões de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.” (Mateus 16.13-17 – JFA).
Tudo foi escrito com uma finalidade muito específica, segundo o apóstolo João no seu evangelho: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (João 20.30,31 – JFA).
Os milagres são sinais que demonstram a Sua identidade. Nunca ninguém na História fez o que Ele fez, porque só Ele o poderia fazer. Recusar a Sua diferença num tempo em que se pretende promover o respeito pelo diferente, é um contra-senso. Hoje, mais do que nunca, deveríamos estar disponíveis para acolher Deus, reconhecendo os traços que O identificam connosco na Sua encarnação, e aceitando o que O distingue de nós e sempre distinguirá na Sua exclusividade, porque divino e absolutamente perfeito.
Algumas pessoas têm muita dificuldade em aceitar os milagres de que a Bíblia dá testemunho, mas a dificuldade desaparece quando se admite a existência de Deus. Se Jesus é quem disse que era, então não há qualquer tipo de dificuldade face aos sinais que realizou. Aquele que criou tudo o que existe tem poder para dispor como entende da Sua criação. Os milagres que Jesus realizou são uma antecipação da realidade do reino de Deus, quando for implantado plenamente entre nós. A questão de fundo é sempre a disposição do coração humano em aceitar ou não Deus dispondo-se a sujeitar-se a Ele, conhecendo a Sua santidade, o Seu amor e a Sua justiça.
Estamos a chegar a um tempo em que o homem há-de constatar que só um milagre pode reverter toda a situação que o pecado originou, isto é, só Deus poderá dar lugar a “novos céus e nova terra nos quais habita a justiça” (2 Pedro 3:13b – JFA). Se por um lado o mundo há-de mostrar-se como ingovernável sem Deus, também a sua restauração só será possível pela intervenção de Deus. Não fosse essa intervenção só a morte sobraria.
Hoje precisamos buscar o Deus dos milagres. Mesmo face ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia, os milagres nunca poderão ser descartados. Parece-nos que quanto mais longe o homem conseguir chegar no seu desenvolvimento, mais se tornará clara a necessidade do milagre por parte de Deus.
Se por um lado o homem hoje consegue o que era inimaginável há algumas décadas atrás, também cresce a impressão de que não há possibilidade de alterar a condição humana de fundo. Cada vez mais parece inculcado no coração da nossa cultura o determinismo fatalista. Em Jesus o milagre abre-nos horizontes de esperança que nada pode apagar. Em Jesus o nosso destino é mudado. Em Jesus o fado muda de tom e de letra. Em Jesus temos vida eterna. Quantas pessoas não conhecemos que viviam atoladas em profunda desgraça, e que no conhecimento de Jesus Cristo hoje vivem uma nova vida. É isto que o agnosticismo e o ateísmo não têm para apresentar.
EU SOU
Nós hoje podemos não ter o alcance imediato desta declaração de Jesus a Seu próprio respeito, mas os judeus sabiam muito bem o que é que Ele estava, não apenas a insinuar, mas a afirmar peremptoriamente quando se referia a Si mesmo nestes termos: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.” (João 6:35 – JFA). “Eu sou o pão da vida.” (João 6:48 – JFA). “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.” (João 6:51 – JFA). “Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12 – JFA). “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.” (João 10:7 – JFA). “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá, e achará pastagens.” (João 10:9 – JFA). “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (João 10:11 – JFA). “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,” (João 10:14 – JFA). “Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá;” (João 11:25 – JFA). “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14:6 – JFA). “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor.” (João 15:1 – JFA). “Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (João 15:5 – JFA).
Quando Moisés perguntou a Deus pelo Seu nome, obteve uma resposta que esclarece tudo a respeito destes títulos que Jesus assume em relação a si mesmo: “Então disse Moisés a Deus: Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes direi? Respondeu Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos olhos de Israel: EU SOU me enviou a vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é o meu nome eternamente, e este é o meu memorial de geração em geração.” (Êxodo 3:13-15 – JFA).
Sem sombra de dúvida Jesus apresenta-se como a própria vida, como o Criador, como Aquele que sustenta a vida, como o Envidado de Deus, como o Senhor e como o Salvador. Diante das afirmações categóricas de Jesus a respeito de Si mesmo, só nos restam três hipóteses, ou é efectivamente quem disse que era, ou é o maior louco ou o maior mentiroso que já existiu. Toda a vida de Jesus é uma demonstração contínua da Sua identidade. Tudo o que Ele ensinou e tudo o que realizou mediante a Sua morte só tem validade se efectivamente Ele é quem disse ser. A Sua ressurreição como momento culminante deste processo é a confirmação do que disse, do que ensinou e do que realizou através de uma morte experimentada no lugar no homem, para que este não tenha que enfrentar uma eternidade de separação de Deus.
EU SOU – a reivindicação d’Aquele que em Si mesmo é a essência do Ser, da existência, de tudo o que foi criado. Ele é o Senhor de toda a Criação. N’ele tudo existe e subsiste. Ele é o Autor da Vida. Ele é a Vida. É por Ele que vimos à existência e só n’Ele encontramos a verdadeira essência para a qual fomos criados e sem a qual nunca estaremos satisfeitos. Ele é a fonte da Vida. Não nos basta como ser humanos a vida física, a vida biológica… fomos criados para sermos na vida do próprio Deus. Por isso sem Deus, à luz da Bíblia, estamos mortos e, segundo a mesma revelação, só em Jesus Cristo somos vivificados para vivermos eternamente em Sua presença.
INTIMIDADE E DEPENDÊNCIA ABSOLUTAS DO PAI E DO ESPÍRITO SANTO
Na sua vida Jesus Cristo mostrou-nos como devemos viver, qual o estilo de vida para o qual fomos criados, qual é o projecto de vida que devemos prosseguir. “Eu e o Pai somos um.” (João 10.30 – JFA). Da mesma forma Ele pretende trazer-nos a esta unidade n’Ele. “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim. Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço; conheceram que tu me enviaste; e eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer ainda; para que haja neles aquele amor com que me amaste, e também eu neles esteja.” (João 17:20-26 – JFA).
O ser antes de tudo o mais. O fazer decorre do ser e demonstra-o. É esta a essência que verificamos na pessoa de Jesus e é esta mesma realidade que Ele quer comunicar à vida de todos os que O seguem. A unidade dos cristãos está em Jesus Cristo, na Sua pessoa, na filiação divina que Ele nos confere, no Seu ensino, na Sua glória, no nome do Pai, no amor paternal que flui d’Ele.
O relacionamento e a intimidade com a pessoa do Pai e do Espírito Santo, e o relacionamento e a unidade dos filhos de Deus fazem parte da mesma realidade. Família de Deus é o que somos em Cristo.
Não é demais dizer que fomos criados para Deus, que foi essa relação que o pecado rompeu com todas as consequências de morte e sofrimento que a História documenta, e que em Jesus Cristo somos reconciliados com Ele para podermos voltar à Sua intimidade por toda a eternidade.
NASCIDO PELA INTERVENÇÃO DO ESPIRITO
O nascimento de Jesus é sobrenatural. Ele é concebido pelo Espírito Santo. Nasce de uma virgem. “Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus.” (Lucas 1.35 – JFA).
Esta é outra das dificuldades que o homem moderno tem em relação à Pessoa de Jesus Cristo. No entanto ela é intrínseca à Sua essência e identidade. Sendo quem é, só podia ter vindo a existir como homem pela intervenção miraculosa do Espírito divino. Num tempo em que se fala de clonagem e de inseminação artificial, porque razão há-de o homem contemporâneo considerar como impossível o nascimento virginal de Jesus?
De alguma forma Ele veio para que nós pudéssemos nascer uma segunda vez, por escolha própria, de Deus. Não escolhemos a Deus como Criador, não escolhemos os nossos pais biológicos, mas somos colocados perante a decisão de escolhermos a Deus como Pai e escolhermos ser filhos de Deus, e irmãos uns dos outros, em Jesus Cristo. Em Jesus escolhemos ser parte da família de Deus. Nesta família há lugar para todos. Esta família estará junta para todo o sempre. Deus Criador e Deus Pai. Deus Filho e uma multidão incontável de filhos de Deus através d’Ele. Deus Espírito Santo confirmando em cada um esta divina filiação.
IDENTIFICADO PELA MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO
João Baptista recebera o sinal que identificaria o Messias: “E João testemunhou dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele. Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a baptizar com água, me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que baptiza com o Espírito Santo. Pois eu de facto vi, e tenho testificado que ele é o Filho de Deus.” (João 1:32-34 – JFA).
Aquele sobre o qual o Espírito desceu é o que baptiza com o mesmo Espírito. É esse baptismo do alto que Ele veio proporcionar a todos os que n’Ele crêem. Submergidos no Espírito, para podermos viver a vida do alto, a vida de Deus. É no Espírito de Deus que podemos viver a vida cristã. Ele produz em nós um carácter segundo a Sua natureza e concede-nos a competência para realizarmos no presente o serviço que deve ser apanágio dos que são filhos de Deus.
Um cristão não é um ser perfeito mas que persegue a perfeição de carácter com tenacidade, sabendo que a obra que foi começada nele há-se concluir-se com êxito. “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há-de completá-la até ao dia de Cristo Jesus.” (Filipenses 1:6 – JFA). O relativismo tão popular hoje em dia, está a corroer as consciências e os comportamentos. Sem fundamentalismos terroristas não podemos perder os fundamentos fora dos quais a convivência humana se desmorona. Existem valores dos quais não podemos abrir mão, e se o respeito e a tolerância é um valor importante no nosso relacionamento uns com os outros não podemos ser tolerantes para com a injustiça e a hipocrisia. Os homens podem escapar à justiça humana, mas não podem escapar à justiça divina. A justiça humana pode tornar-se injusta e hipócrita, as leis humanas podem ser arbitrariamente aplicadas, mas a justiça divina não deixará o culpado impune. A justiça divina já se realizou em Cristo de modo a que todos os culpados possam mediante Ele ser perdoados e absolvidos.
MISSÃO CUMPRIDA NO PODER DO ESPÍRITO
Jesus mostrou-nos como é viver sob a orientação e o poder do Espírito Santo: “Chegando a Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito: O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor. E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos.” (Lucas 4.16-21 – JFA). Deus não desampara os que se reconhecem diante d’Ele como pobres, os que reconhecem a sua pobreza espiritual. Não é o poder, a influência, a projecção social, a capacidade intelectual, o estatuto social que impressionam a Deus. Não é a elite que tem acesso à Sua presença. Ontem como hoje Jesus acolhe os desamparados. E da mesma forma nós devemos fazer uns para com os outros. Por outro lado esta palavra profética encerra a esperança cristã que se insurge contra toda a indiferença e comodismo. É possível viver de uma forma diferente. É possível mudar de vida, começar a viver de forma diferente. É possível começar de novo, mudar de página. O passado pode ser alterado, o presente pode ser mudado, o futuro pode ser diferente. Diante do amor e do poder de Deus é possível confrontar o pessimismo, o fatalismo e o determinismo. O que não podemos fazer sozinhos, podemos em Jesus Cristo. Esta mensagem cristã é profundamente revolucionária. As próprias injustiças do tempo presente serão revertidas na eternidade e isto não significa que aqui elas sejam branqueadas. Tem que haver uma outra vida na qual tudo o que nesta foi marcado pelo ferrete da injustiça humana, tudo o que teve o sopro do inferno seja compensado. Através de Jesus Cristo Deus deu-nos essa certeza. Podemos aqui não conseguir alterar os esquemas do mal embora sejamos chamados e convocados e a envolver-nos em viver de modo diferente, mas temos a certeza de que na eternidade através de Jesus viveremos uma outra realidade.
Do mesmo modo que Jesus viveu a Sua vida no Espírito divino, a vida cristã só pode ser vivida no mesmo Espírito. “Digo, porém: Andai pelo Espírito, e não haveis de cumprir a cobiça da carne. Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gálatas 5:16-18 – JFA).
O plano divino para a vida cristã é que a vivamos cheios do Seu Espírito, dando o fruto que Ele produz e actuando nas habilidades que Ele confere. A vida cristã é uma vida natural vivida sobrenaturalmente.
AMOR, PERDÃO E SERVIÇO
Eis três palavras que traduzem tês notas dominantes na vida de Jesus Cristo entre nós, bem como do Seu ensino. Palavras que Ele viveu por inteiro e que nos passou a possibilidade de as vivermos.
Elas traduzem a verdadeira identidade de Deus. Elas nos dão a conhecer quem realmente Deus é.
Quer queiramos quer não existimos em Deus, movemo-nos em Deus, como Paulo acentuou no seu discurso no areópago (Actos 17:28). Quaisquer que sejam as eventualidades da nossa vida, o facto é que ela está nas mãos do Criador. Mesmo quando fazemos o que muito bem nos apetece e colhemos disso as devidas consequências, ainda assim dependemos de Deus na nossa existência. Deus é sempre soberano, mesmo quando nós nos arvoramos em donos da nossa vida. É na Sua soberania que Deus determinou o nosso livre arbítrio. Somos livres e exercemos a nossa liberdade em função do decreto divino. Mas faz uma diferença muito grande saber que estamos nas mãos de um Deus santo, amor, justo e cheio de graça do que nas mãos de um déspota, de um tirano arbitrário e sem escrúpulos. A nossa vida e tudo o que nos acontece são encaminhados pela graça de Deus, para que percebamos que Ele é por nós e não contra nós, que Ele é o fundamento do nosso bem, que é n’Ele que encontramos a nossa realização e felicidade. Deus não é o nosso inimigo. Tornamo-nos inimigos de nós mesmos quando nos colocamos contra Deus, quando recusamos viver no Seu amor, na Sua justiça, na Sua graça e na Sua santidade.
Segundo a natureza de Deus, presente em absoluto na pessoa de Jesus, segundo a Sua vida terrena em conformidade com todo o procedimento de Deus ao longo de toda a História e de eternidade a eternidade, segundo o Seu ensino se amamos então perdoamos e servimos, se amamos dizemos a verdade em amor, não ofendemos, não levantamos falsos testemunhos, não nos vingamos, não queremos o mal dos nossos próprios inimigos, não retribuímos o mal com o mal, não mentimos, não invejamos, não usamos de violência, não adulteramos, não nos prostituímos, fazemos aos outros da mesma forma como gostamos de ser tratados (de uma forma positiva e não meramente negativa). Por isso todos os valores e princípios da vida cristã se resumem ao mandamento do amor, em conformidade com o facto de Deus ser amor: “Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses.” (Marcos 12:28-31).
É o amor que suporta e alimenta, dá razão de ser e integra, os princípios e os valores da vida cristã. Sendo amados e perdoados, reconciliados e em intimidade com Deus vivemos segundo os padrões morais e éticos que vemos no carácter divino em Jesus Cristo. Se as nossas atitudes e comportamento demonstram a genuidade do nosso amor, é só no amor que podemos viver a genuidade dos valores e dos princípios cristãos.
Por outro lado se sabemos de antemão que Deus nos ama então podemos viver seguros, tranquilos, descansados, sem ansiedade quanto ao dia de amanhã. Podemos analisar o Sermão da Montanha e todos os restantes ensinos de Jesus sobre o comportamento dos Seus seguidores à luz do amor, eles são aplicações concretas do amor às várias circunstâncias da nossa vida.
Toda a acção terrena de Jesus Cristo é marcada pelo amor mesmo quando Ele fala acerca do Inferno, da condenação eterna dos que não aceitam e vivem no Seu amor e aceitam o Seu perdão; quando denuncia a hipocrisia dos religiosos ou quando expulsa os vendilhões do templo. Trata-se da mesma forma de actuação de Deus ao longo de toda a História humana desde a criação passando por eventos como a expulsão do Homem e da Mulher do Jardim do Éden, do dilúvio, da Torre de Babel, da destruição de cidades como a de Jericó. Podemos não conseguir ver o amor de Deus em todos esses eventos, como podemos não perceber o exercício da Sua justiça, mas na Sua santidade o amor e a justiça fazem parte de uma mesma realidade. Quando Deus ama Ele é justo e quando Deus é justo Ele continua a ser amor. A justiça de Deus em harmonia com o Seu amor para connosco realizou-se em função do que Jesus fez na cruz a nosso favor.
O amor expressa-se no perdão e no serviço. Tudo o que fazemos como cristãos é feito em nome de Jesus: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em acção, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Colossenses 3:17 – JFA) Um pouco mais adiante o mesmo escritor reforça a mesma verdade do serviço que é prestado em nome de Jesus e avança com a revelação de que ele recebe da parte de Deus a devida recompensa, mesmo que ele passe despercebido aos homens, ou seja para eles insignificante como era o caso do trabalho dos escravos: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor, e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo (…).” (Colossenses 3:23,24 – JFA)
ENFRENTANDO O SOFRIMENTO
O sofrimento não é tratado por Jesus na base da especulação filosófica. Um dos relatos eloquentes acerca disso é quando perante um cego os Seus discípulos querem saber qual a razão que pode estar na origem da situação, mas para Jesus o que está em causa é a glória de Deus que se há-de manifestar pela cura. “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus. Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.” (João 9:1-5)
Um dia destes toda o mal será extirpado da terra, e toda a dor desaparecerá: “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra, e o mar já não existe. E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve; porque estas palavras são fiéis e verdadeiras.” (Apocalipse 21:1-5 – JFA)
MILAGRES
Os milagres são inerentes à existência de Deus. Ele pode fazer o que quer. Para Ele não existe o impossível. Deus criou tudo o que existe, governa tudo o que existe, redimiu tudo o que existe e restaurará tudo o que existe. Como cristãos acreditamos num novo mundo em que o bem prevalecerá para sempre, em que a doença e a morte desaparecerão, em que a justiça triunfará, em que o mal deixará de existir.
Até lá continuaremos a agir de tal forma que essa realidade, apesar de contrariada por múltiplos factores, se alargue cada vez mais, começando em nós e espraiando-se à nossa volta.
A vida de Jesus está marcada por milagres que são sinais acerca da Sua identidade e ao mesmo tempo são antecipações do Reino dos céus que haverá de ser instaurado por Ele na Sua segunda vinda, conforme a Sua promessa bem explícita em todo o Novo Testamento. Porque acreditamos em milagres acreditamos que vidas podem ser mudadas, e o impossível pode acontecer. Os exemplos são mais do que muitos. Agora Aquele que faz milagres é soberano. Os milagres que envolvem cura física e intervenções no mundo natural dependem da fé das pessoas e do beneplácito divino. Estamos ainda a viver o tempo em que as consequências cósmicas do pecado estão presentes. Para lidar com elas precisamos de fé como dependência da força que Deus concede na esperança de que um dia destes as coisas mudarão de figura e na eternidade toda a dor e sofrimento cessarão. É esta expectativa que o agnosticismo e o ateísmo não podem oferecer. Não há alternativa no cepticismo. A resposta para os sofrimentos do tempo presente pode não ser fácil para um cristão, mas ela não existe fora do cristianismo. O cristão, à luz da cruz de Cristo e da Sua ressurreição, sabe que na eternidade o cenário será absolutamente diferente para os que crêem n’Ele. Como Paulo esta é a nossa certeza: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória por vir a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação a um só tempo geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adopção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque na esperança fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança: pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos.” (Romanos 8:18-25 – JFA). Ela está em consonância com as próprias palavras de Jesus como não podia deixar de ser: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33 – JFA).
Jesus cuja vida terrena é marcada pela manifestação do poder sobrenatural nunca enganou os Seus seguidores a respeito das contrariedades, da oposição, da perseguição, dos maus-tratos, das aflições, das dificuldades do presente tempo.
Sabemos que quem segue a Jesus e os Seus ensinos é resguardado de muitos problemas que de outra forma teria se vivesse atolado numa vida desregrada, mas também sabemos que o facto de O seguirmos nos expõe a outros perigos e dificuldades. Em todo o caso sabemos que não estamos nunca sozinhos. Esta é a convicção de Paulo e é a nossa: “Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 8:31-39 – JFA).
Apesar de tudo confiamos que Deus vela por nós. Como Jesus ensinou no Sermão do Monte: “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:33). Por isso confiadamente oramos: “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje” (Mateus 6:11 – JFA).
UM DEUS HUMILDE
Existe uma dificuldade muito grande em aceitar esta essência de Deus conforme Jesus Cristo a expressou. Deus é Deus, e ponto final. Ele não precisa impor esse facto. Como Suas criaturas somos servidos por Ele em tudo o que nos rodeia e no que nós somos. A atitude que deve emergir do nosso mais íntimo ser é a da gratidão, do louvor e da adoração. A perversão desta postura é o pecado.
Jesus nunca obrigou quem quer que seja a acreditar n’Ele ou a aceitar a Sua mensagem. Jesus não impôs a ninguém a Sua identidade. Ele forneceu os elementos necessários e suficientes para que, em liberdade, cada um pudesse concluir quem Ele é de facto.
Como Ele foi e agiu nós também somos ensinados a ser: “Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2.5-11 – JFA).
O estilo de vida humilde de Jesus é uma lição para nós. A arrogância e a sobranceria não fazem parte do perfil do ser cristão. “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:28-30 – JFA).
Daí que houve e há pensadores que acusam o cristianismo de enaltecer a fraqueza. Daí também o cristianismo introduziu o cuidado pelos fracos, pelos desvalidos, pelos pobres, pelos escorraçados, pelos desvalorizados, pelos abandonados, pelos segregados e marginalizados. Jesus tocou em leprosos que eram proscritos. Jesus relacionou-se com os samaritanos que eram desprezados pelos judeus. Jesus aceitou a companhia de mulheres e crianças que eram desvalorizadas. Jesus foi acusado de ser amigo de publicanos e pecadores – a escória da sociedade (Mateus 11:19).
O SERVO
O título por excelência que podemos encontrar em Jesus é o de Servo. Ele veio para servir. Nunca se envergonhou do serviço. Perante uma mulher samaritana e de reputação duvidosa não teve relutância em pedir-lhe água para beber. O Criador de tudo não tem qualquer relutância em ser servido. Este é o transtorno do pecado. A mulher fica surpreendida e não sabe ainda tudo acerca de quem lhe pede água. Um pouco mais à frente é o próprio Jesus que lhe diz: “Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” (João 4:10 – JFA).
Jesus apresenta-se como servo, quando a expectativa está em quem se irá sentar ao Seu lado no trono: “Então Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será vosso servo; tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20:25-28 – JFA).
Pouco tempo antes de dar a Sua vida em resgate pela humanidade, Jesus toma a posição do escravo daqueles dias e lava os pés aos Seus discípulos, perante a estupefacção de todos e a indignação de Pedro que a todo o custo se recusa a admitir tal postura. A isto Jesus responde de forma enérgica: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo.” (João 13:8 – JFA). A lição é bem clara: “Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais o Mestre e o Senhor, e dizeis bem; porque eu o sou. Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.” (João 13:12-17 – JFA). Em tudo Deus nos deu o exemplo. Não temos que reclamar. Jesus fez o que devemos fazer. Deus, o Senhor, é o Servo. Como a Igreja e os cristãos em tantas ocasiões se têm esquecido disto e têm ficado tão longe desta postura.
O chamado do cristão é para ser servo: “Quem ama a sua vida, perde-a, mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna. Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará.” (João 12:25,26 – JFA). A vida no sentido de Cristo é serviço, doação, abnegação, generosidade, bondade, amor.
Quem pode ficar insensível perante o relato do grande julgamento que Jesus apresentou: “Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes. Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim. E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna.” (Mateus 25:31-46 – JFA). É a este estilo de vida que somos chamados por Cristo. Como o mundo se torna diferente quando vivemos assim. Como se torna diferente a nossa família quando esta é a nossa postura. Como as coisas seriam bem diferentes se estivesse generalizado este modo de ser na saúde, na justiça, na educação, nos meios de comunicação, nas empresas, nos governos, etc.
UM DEUS-HOMEM OBEDIENTE
O homem no pecado detesta obedecer. Contrariamente o próprio Deus em Jesus Cristo dá-nos o exemplo da vida de obediência até à morte, e morte de cruz.
A oração de Jesus no Jardim do Getsemani é cheia de significado: “E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e pondo-se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.” (Lucas 22:41,42 – JFA).
A epístola aos Hebreus tem uma nota muito singular, sugestiva e tocante em relação a esta marca distintiva de Jesus Cristo, verdadeiramente notória em relação a nós. O problema essencial do pecado é desobediência, é insurreição, é rebelião, é inimizade contra Deus. O pecado voltou o homem contra Deus e contra si mesmo, contra o seu semelhante e contra a própria Terra. Hoje vemos isso de forma muito nítida. O pecado é visceralmente avesso à obediência a Deus. O pecador não quer sujeitar-se a Deus, quer viver à sua própria maneira, seguindo os seus próprios ditames, julgando-se livre é escravo das suas inclinações destrutivas. Jesus Cristo veio mostrar-nos como a obediência é parte de uma relação saudável com um Deus que nos ama. A obediência de Jesus Cristo é não em meio a circunstâncias agradáveis, mas face ao sofrimento e sofrimento extremo, como é aquele que suporta na cruz: “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hebreus 5:8 – JFA).
Deus tem todo o direito em requerer a nossa obediência. Ele mesmo em Jesus Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz. Mas Deus requer a nossa obediência levando-nos a conhecer como Ele é bom, amoroso, misericordioso e justo. Deus não é um déspota sanguinário e arbitrário. Deus nos ama como mais ninguém nos ama. Deus nos quer bem. As evidências foram-nos dadas para que retornemos à casa do Pai, só ali estaremos abrigados.
Quando amamos a Deus observamos a Sua vontade, queremos agradar-Lhe. Foi isso mesmo que Jesus falou acerca de si mesmo em relação aos Seus seguidores: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.” (João 15:14 – JFA).
OBSERVANDO A PALAVRA DE DEUS
Jesus viveu observando a Palavra de Deus, que no fim de contas é a Sua própria Palavra. “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem nem um j ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.” (Mateus 5:17,18 – JFA).
Como nenhum outro a expôs, explicou, aplicou e viveu. Ele é a própria Palavra em carne e osso. Em Jesus temos a Palavra de Deus entre nós. N’Ele vemos que não há nenhuma dissonância em Deus a respeito do que Ele fala, do que Ele vive, do que Ele é. Deus é absolutamente santo.
Usou o que está escrito no momento crucial da tentação no deserto. Desta forma aprendemos com Ele a empunhar a Palavra de autoridade que rege todo o Universo, a Palavra que o trouxe à existência e a Palavra que permanece para todo o sempre. Jesus deu disso um testemunho muito veemente: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão.” (Mateus 24:35 – JFA).
É Ele e a Sua Palavra que nos ensinam a viver. Com Ele sabemos como devemos agir, como nos devemos defender, como devemos atacar, como sair vencedor de cada confronto com os poderes do mal; como nos devemos relacionar uns com os outros como palavra que nos estimula ao amor, ao perdão e ao serviço: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afectos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vossos corações, à qual, também, fostes chamados em um só corpo: e sede agradecidos. Habite ricamente em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações.” (Colossenses 3:12-16 – JFA).
CUMPRINDO AS PROFECIAS
A vida de Jesus foi uma contínua concretização do que anteriormente Deus já havia antecipado pelos profetas. Repetidas vezes encontramos esta importante referência à vida de Jesus. O próprio a fez muitas vezes. Uma das mais abrangentes terá sido certamente aquela que os discípulos a caminho de Emaús ouviram da Sua boca, já ressuscitado de entre os mortos: “Então ele lhes disse: Ó néscios, e tardos de coração para crerdes tudo o que os profetas disseram! Porventura não importava que o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras.” (Lucas 24:25-27 – JFA).
O cumprimento profético na vida de Jesus ocupou e ocupa um lugar de relevo nas evidências que nós temos acerca da Sua identidade. Existe um elo inquebrável entre o Velho e o Novo Testamentos. Desde a eternidade que Deus tinha estabelecido o plano de redenção da humanidade que haveria de criar e que se haveria de apartar d’Ele. Nesse plano Ele demonstraria a Sua natureza e exporia diante dos nossos olhos toda a Sua glória, a Sua santidade, o Seu amor, a Sua justiça, a Sua misericórdia.
FAZENDO O BEM
Toda a vida terrena de Jesus foi vivida para os outros, dando-Se. “Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mateus 20.28 – JFA)
Jesus mostra-nos o Deus verdadeiro que no dizer do apóstolo Paulo não é servido por mãos humanas como se precisasse de alguma coisa, Ele mesmo foi quem criou tudo o que existe. A Sua criação é parte do serviço de Deus a nosso favor.
Servirmos a Deus é um privilégio que Ele nos concede. Servi-lO na pessoa do nosso semelhante é uma vivência prática do que Deus mesmo faz. É a imitação da atitude de Deus desde o princípio para connosco. A contribuição da Igreja de Jesus Cristo para os mais desfavorecidos não é estatisticamente possível de ser traduzida, mas não temos dúvida alguma que ela é um dos suportes essenciais da nossa civilização apesar das suas crises. Se a onda de indiferença que a secularização e o laicismo tendem a introduzir na sociedade e na cultura, continuar a crescer é assustador o que daí pode advir. É necessário romper com a indiferença e a apatia perante o sofrimento alheio. É necessário pôr cobro a uma competição desenfreada que serve de cobertura à cobiça e à inveja. O motor da história e do desenvolvimento sustentado é o amor, a abnegação, a bondade e o espírito de sacrifício.
Jesus Cristo ensinou-nos pela Sua própria vida que manifesta a natureza e a essência de Deus, a estarmos disponíveis para servir. Segundo Jesus o maior é aquele que serve e não aquele que é servido. Que grande inversão de valores.
Por outro lado Jesus mostrou-nos e ensinou-nos que servimos a Deus quando servimos o nosso próximo, e o nosso próximo não é aquele que se aproxima de nós ou aquele que está perto de nós porque faz parte do nosso círculo social e cultural, religioso ou partidário, mas aquele de quem nós nos aproximamos quando todos se afastam. Neste sentido Deus se tornou próximo do homem não porque nós nos aproximamos d’Ele, mas porque Ele mesmo tomou a iniciativa de se aproximar de nós, tomando a nossa forma, assumindo a nossa condição humana, vestindo-se de carne.
O apóstolo Paulo dá conta da sua própria estratégia na partilha do evangelho, fazendo todo o esforço para que pudesse alcançar o maior número de pessoas. Só calçando os sapatos dos outros estamos em condições de lhe mostrarmos a pessoa de Jesus Cristo e o que é que Ele pode e quer fazer por nós, e o que nós podemos fazer a partir d’Ele e n’Ele. “Pois, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos para ganhar o maior número possível: Fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse eu debaixo da lei (embora debaixo da lei não esteja), para ganhar os que estão debaixo da lei; para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. Ora, tudo faço por causa do evangelho, para dele tornar-me co-participante.” (1 Coríntios 9:19-23 – JFA).
RELACIONANDO-SE COM OS MARGINAIS
Uma nota das mais desconcertantes, para nós e para os seus contemporâneos e conterrâneos, consiste nas pessoas que apreciavam a Sua companhia. Para muitos dos religiosos de então era inconcebível, inadmissível que a santidade pudesse atrair e alcançar os fracassados morais.
“Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Entretanto a sabedoria é justificada pelas suas obras.” (Mateus 11.19 – JFA).
Ele, o Santo de Deus, tinha prazer em estar com os pecadores para trazer-lhes perdão. Diante d’Ele não se sentem condenados, mas amados e aceites, para poderem viver uma nova vida. Os que se afastam, os que se sentem incomodados são os hipócritas religiosos, os que se apresentavam como representantes de Deus.
O fulcro da Sua missão é morrer na cruz em lugar de todos os pecadores, que somos todos nós. A diferença entre nós reside em reconhecermos ou não que sendo pecadores, somos pelo Deus santo, amados e justificados por Cristo.
Jesus foi duramente criticado pelos legalistas de então e o mesmo vem acontecendo ao longo de toda a História. Deus me guarde de incorrer no grave erro de perder de vista o Seu amor e de transformar a Sua graça em legalismo, e perder de vista a Sua misericórdia no trato com os meus semelhantes. Quantas vezes não o terei feito. Que Deus me perdoe!
AMANDO INCONDICIONALMENTE
Sem condições Jesus acolheu a todos os que a Ele se dirigiram não para que continuassem na mesma, mas para que percebessem que n’Ele e por Ele é possível viver uma outra vida. O amor incondicional de Jesus para com todos não é imobilista nem conformista, não é um encolher de ombros diante da nossa desgraça, das nossas dores, da nossa ruína, do nosso pecado. O amor de Deus denuncia o nosso estado miserável, mas estende-nos a mão para que sejamos levantados e possamos viver acima da presente condição pecaminosa. O amor de Cristo por nós torna-nos vitoriosos sobre o mal. Não mais escravos, mas livres. Não mais dependentes do determinismo fatalista seja do que for, mas libertos em Deus para a santidade, o amor e a justiça.
A mensagem do amor de Deus em Jesus é que é possível mudar, ser diferente, ter um outro destino, inverter a direcção, caminhar noutro sentido, ter um outro começo.
PERDOANDO OS SEUS PRÓPRIOS INIMIGOS
Jesus ensina-nos o perdão na primeira pessoa. Tudo o que Jesus nos ensina está vertido no Seu exemplo, na Sua vida, no Seu comportamento e atitudes, na Sua natureza. “Jesus, porém, dizia: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. Então repartiram as vestes dele, deitando sortes sobre elas.” (Lucas 23.34 – JFA).
O amor que procede do coração de Deus a partir do que Jesus realiza a nosso favor na cruz, é o perdão que nos é requerido diariamente. O perdão de Deus custou a cruz de Jesus. Esta é uma realidade que confunde, perturba, escandaliza desde sempre a cultura do próprio pecado. A justiça de Deus não podia pura e simplesmente abolir, absolver o pecado. A pena estabelecida por Deus a respeito do pecado precisava ser cumprida, e Deus a cumpriu sobre Si mesmo. Não temos uma graça barata. A graça é o que de mais custoso o universo, o tempo, a história e a eternidade conhecem. A graça tem o preço do próprio Deus na forma humana, tomando sobre Si a nossa morte. Este é um perdão que nos muda radicalmente por dentro, que nos faz filhos de Deus.
Uma das marcas da divindade reside precisamente na forma como Ele estende o perdão a todos os que dele carecem e estão disponíveis para o receber, porque se reconhecem pecadores. Só Deus pode perdoar o pecado que cometemos contra nós e contra os outros, porque em última instância o pecado é sempre contra Ele.
MUDANÇA POR DENTRO – NASCER OUTRA VEZ
Ser diferente para viver de uma forma diferente. Nascer de novo. Não há expressão mais forte. Deixou confuso um doutor da Lei que apesar de estar impressionado com o currículo de Jesus, logo mostrou o seu cepticismo perante uma declaração tão revolucionária, tão radical.
Até aos dias de hoje aqui radica o que nem a religião, nem a filosofia, nem a política, nem a educação, podem fazer pelo homem. A legislação, a educação e a formação não podem mudar o homem por dentro, na sua natureza espiritual. É por isso que o Evangelho não pode ser confundido com um programa político, nem com um catecismo ético ou um rito religioso. O Evangelho pode influenciar as normas de um país, mas nunca pode ser imposto por via legal. O Evangelho muda o homem por dentro e tem de ser aceite de forma livre e espontânea, embora sempre pela acção persuasiva do Espírito Santo e da Sua revelação. O apóstolo define muito bem o que é o evangelho quando escreve aos crentes em Roma: “Porque não me envergonho do evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” (Romanos 1:16 – JFA).
Jesus não veio propor uma reforma, uma recauchutagem, um conserto.
Jesus veio operar uma nova criação.
Para criar, no princípio, bastou a Deus falar e tudo foi feito segundo o Seu decreto. Para recriar foi necessário que Deus viesse, assumisse a dimensão do homem e morresse na cruz. Apenas a Sua morte e ressurreição tornou possível o nosso renascimento.
O encontro de Jesus Cristo com Nicodemos, um religioso judeu, é uma das narrativas dos evangelhos que mais me impressiona e que marca de uma forma incontornável a exclusividade do evangelho. Nascer de novo é um exclusivo do poder de Deus, através do que Jesus Cristo veio possibilitar e o Espírito Santo opera:
“Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer? Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto? Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas? Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho! Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem. E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigénito Filho de Deus. E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.” (João 3.1-20 – JFA).
Paulo quando escreve aos coríntios sobre a experiência cristã descreve-a como uma nova criação: “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17).
O poder de Deus mediante a cruz de Jesus liberta o homem do pecado para uma nova vida. O pecado não tem mais domínio sobre o homem que aceita a Jesus Cristo, ele é feito mais do que vencedor em Cristo. Os vícios podem ser vencidos, as dependências podem ser debeladas, as tentações podem ser resistidas.
CONVITE SINGULAR
Jesus coloca-nos, na primeira pessoa, perante um convite que só quem é Deus tem a possibilidade de exprimir e de cumprir. Ao longo dos séculos milhões têm dado testemunho acerca da autenticidade das Suas palavras. “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11.28-30v- JFA). Esta é a essência da experiência cristã. Enquanto a religião oprime o homem nas suas múltiplas prescrições para merecer o agrado de Deus, em Jesus Cristo temos o descanso que a graça confere. Não é pelo que fazemos, mas pelo que já foi feito.
Neste texto de uma forma muito particular e singular Jesus apresenta-se como “manso e humilde de coração”, atributos surpreendentes em quem é Deus. Ao contrário dos imperadores romanos, dos senhores e dos dignatários religiosos, Deus apresenta-se como “manso e humilde de coração”. Como é distorcido o conceito que muitos têm acerca de Deus. Ele é soberano, Todo-poderoso, Senhor do Universo, mas não é um déspota sanguinário. É amor e veio como Servo para servir, como desde sempre serviu a humanidade. A própria vida é um dom de Deus e só no serviço mútuo a vida se realiza.
Numa outra ocasião, no último dia de uma festa que não conseguiria de forma alguma preencher o vazio do coração dos participantes, por muito envolvidos que estivessem e sinceros que fossem. Nessa altura Jesus levantou-se e exclamou: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até esse momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado.” (João 7:37-39 – JFA).
VIVER CRISTO
Paulo declara que a sua vida é Cristo. Esta é a essência da vida cristã. “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” (Gálatas 2:20)
Aos colossenses Paulo declara que Cristo é a nossa vida, a qual se projecta para lá do tempo, na eternidade: “Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, em glória.” (Colossenses 3:4)
Não se trata de uma experiência apenas para alguns como é o caso do apóstolo Paulo. Trata-se do propósito do Pai para cada um dos Seus filhos. A vida que é Cristo, vivida pelo homem, é a essência do cristianismo. Uma vida que não cessa com a morte, uma vida eterna. Isto não pode ser conseguido por qualquer outro meio. Aqui jaz a derrota em toda a linha do cepticismo e da religiosidade humanista. O homem não pode produzir vida, muito menos vida eterna. Ele aparece como criação de Deus e vive eternamente a partir de Cristo.
Esta vida é de vitória face às circunstâncias adversas e que olha de frente as vicissitudes com a fé e a esperança eterna: “Graças, porém, a Deus que em Cristo sempre nos conduz em triunfo, e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo; tanto nos que são salvos, como nos que se perdem.” (2 Coríntios 2:14,15 – JFA).
FIGURA CONTROVERSA
Deus ou demónio? Jesus Cristo desde sempre provocou dissensão. Foi assim há dois mil anos, tem sido assim ao longo da história, é assim hoje em dia.
“Respondeu a multidão: Tens demónio; quem procura matar-te?” (João 7:20 – JFA). “Responderam-lhe os judeus: Não dizemos com razão que és samaritano, e que tens demónio? Jesus respondeu: Eu não tenho demónio; antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.” (João 8:48,49 – JFA). “E muitos deles diziam: Tem demónio, e perdeu o juízo; por que o escutais?” (João 10:20 – JFA).
Normalmente não provoca indiferença. Diante d’Ele se descobre a intimidade de cada homem. A presença e a apresentação de Jesus Cristo actua como um indicador espiritual. A nossa inclinação se descobre diante d’Ele. Não nos admira nem nos perturba que tanta polémica, tanta especulação e tantas histórias sejam inventadas em torno d’Ele. Encontramos Jesus tal e qual Ele é nos Evangelhos em particular, e na Bíblia como um todo.
Hoje proliferam as ficções em torno da figura de Jesus Cristo especulando em torno da Sua identidade, da Sua natureza, da Sua vida. A pós-modernidade julga que pode fabricar a história, alterá-la, mudá-la a seu belo prazer e conformando-a aos preconceitos dos seus comentadores. Para a cultura pós-moderna não há verdade, ou cada um “cria” a sua própria verdade. O homem pós-moderno é uma elaboração mais sofisticada da tendência do homem para se divinizar e pensar-se senhor de si e do seu mundo.
A verdade histórica de Jesus encontramo-la na descrição dos seus contemporâneos, os homens que O acompanharam que viveram com Ele, que ouviram os Seus ensinos, que presenciaram os Seus milagres, que foram testemunhas oculares da Sua morte e que O viram ressuscitado. Para nós os evangelhos são absolutamente fidedignos acerca do Jesus histórico e do Jesus da fé, distinção que à luz dos escritos bíblicos não faz qualquer sentido.
O liberalismo teológico e o pós-modernismo podem continuar nos seus “delírios” e elucubrações, mas não poderão nunca mudar o que de facto ocorreu há dois mil anos atrás, como também não podem comprometer o que Deus determinou para o nosso futuro e que Jesus Cristo prometeu antes de se retirar fisicamente do planeta terra.
REJEITADO PELOS SEUS
Jesus nunca se impôs. Ele nunca obrigou ninguém a aceitá-Lo. Desde o momento do Seu nascimento não houve lugar para Ele na estalagem e, em virtude disso, nasceu num estábulo e foi deitado numa manjedoura. “Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirínio era governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.” (Lucas 2.1-7 – JFA).
Os seus não O receberam conforme declara o apóstolo João logo na abertura do evangelho que tem o seu nome: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.” (João 1.11 – JFA).
Até os seus próprios irmãos não acreditavam n’Ele, conforme o testemunho do mesmo evangelho: “Passadas estas coisas, Jesus andava pela Galileia, porque não desejava percorrer a Judeia, visto que os judeus procuravam matá-lo. Ora, a festa dos judeus, chamada dos tabernáculos, estava próxima. Dirigiram-se, pois, a ele os seus irmãos, e lhe disseram: Deixa este lugar e vai para a Judeia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque ninguém há que procure ser conhecido em público e, contudo, realize os seus feitos em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Pois nem mesmo os seus irmãos criam nele.” (João 7:1-5 – JFA).
Jesus foi rejeitado entre os seus em Nazaré, onde viveu na sua infância: “Tendo Jesus proferido estas parábolas, retirou-se dali. E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam, e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra senão na sua terra e na sua casa. E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.” (Mateus 13:53-58 – JFA).
Diante de Jerusalém Jesus lamentou a rejeição do Seu povo e do que essa rejeição representava de sofrimento escusado para eles: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste! Eis aí abandonada vos é a vossa casa. Pois eu vos declaro que desde agora de modo nenhum me vereis, até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.” (Mateus 23.37-39 – JFA).
É singular a realidade do Deus rejeitado que nos aceita incondicionalmente. Esta é a História da queda e da redenção. Fomos enganados acerca do carácter de Deus, da Sua natureza, da Sua essência e dos Seus propósitos a nosso respeito. A História mostra-nos de sobejo o nosso engano. Não permitamos que esse engano nos acompanhe pela eternidade. Estamos a tempo de reconhecer a mentira e mudarmos de atitude. Deus mostrou de sobejo o quanto nos ama e quanto o pecado é ruim, desastroso, maligno, trágico. Fujamos do pecado. Fujamos da mentira que o alimenta. A nossa realização e felicidade estão em Deus.
A essência do pecado é a rejeição de Deus. Foi assim com Jesus há dois mil anos. Tem sido assim ao longo de toda a História. O drama do homem é essa atitude que o corrói interiormente, que o deixa perdido, órfão, condenado ao nada e à morte.
CRUCIFICADO
Não há como humanamente compreender a cruz. Mas não há Evangelho sem a cruz. A morte mais hedionda escolhida pelo próprio Deus para expiar a nossa culpa, a nossa desobediência e a nossa morte espiritual. O nosso pecado leva Jesus Cristo, Deus feito homem – Deus-Homem, à cruz. Uma escolha pessoal do Criador que assim se torna o nosso Salvador.
Temos horror à cruz porque ela expõe toda a malignidade do pecado do qual somos culpados. Ouvi uma vez alguém dizer num programa de rádio que os seus pecados, se é que os tinha, certamente não o levariam à prisão segundo a justiça humana. O problema é que o pecado humano não tem que ver com a justiça humana, mas com a natureza divina, com o próprio Deus. O pecado é, na sua génese e essência, a rejeição de Deus como Senhor, e a tentativa humana de querer ser senhor de si mesmo e do mundo à sua volta, decidindo viver não em Deus num estado de inocência, mas segundo o bem e o mal, decidido por si próprio.
A cruz não faz sentido para uma sociedade, para uma cultura e mentalidade que rejeita a noção de pecado, de certo e de errado, que rejeita os absolutos morais e éticos, que nega a possibilidade da verdade.
Todos nós conhecemos bem os limites da justiça humana porque o homem tem um conhecimento limitado, dependendo de testemunhas, do confronto de provas e do contraditório. Deus sabe tudo a respeito de tudo. Não há como fugir à verdade dos factos. No entanto Deus não pretende condenar-nos, mas estende-nos o perdão que o próprio alcançou, segundo a Sua justiça, na pessoa divina e humana de Jesus Cristo. Somos nós que nos condenamos a nós mesmos se somos indiferentes, se desprezamos esta tão grande salvação.
A cruz ofende a auto-suficiência humana. A questão não é nova. Ela sempre existiu. Logo no primeiro século o apóstolo Paulo fala dela nestes termos: “Porque Cristo não me enviou para baptizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo. Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria, o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus, aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que crêem. Pois, enquanto os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria, nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos, mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus. Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.” (1 Coríntios 1.17-25 – JFA).
Antes disto já Pedro se havia indignado perante a declaração de Jesus a respeito da Sua morte: “Desde então começou Jesus Cristo a mostrar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse a Jerusalém, que padecesse muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes, e dos escribas, que fosse morto, e que ao terceiro dia ressuscitasse. E Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Tenha Deus compaixão de ti, Senhor; isso de modo nenhum te acontecerá. Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não estás pensando nas coisas que são de Deus, mas sim nas que são dos homens.” (Mateus 16:21-23).
A cruz mostra-nos um Deus que tendo estabelecido soberanamente, na Sua justiça e em conformidade com a Sua natureza, as consequências mortíferas do pecado, assume sobre Si essas consequências, para que todos os que diante d’Ele se arrependem e se convertem, sejam reconciliados com Ele para todo o sempre.
O amor e a justiça, segundo a santidade de Deus, abraçam-se na cruz. É ali, mais do que em qualquer outro lugar e em qualquer outra ocasião, que Deus mostra para connosco o Seu imenso, insondável amor. Jesus amando-nos, amou-nos até às últimas consequências: “Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (João 13:1).
Desde sempre a cruz foi escândalo e loucura, e continuará a sê-lo.
A cruz ofende o orgulho, espinha dorsal do pecado humano.
A cruz mostra quão terrível é o pecado.
A cruz mostra-nos quem verdadeiramente é Deus em toda a Sua santidade, amor e justiça.
A cruz traz-nos a revelação única e exclusiva segundo a graça divina.
Para mim a redenção é absolutamente lógica. Deus é vida. O pecado é contra Deus – anti Deus e necessariamente provoca a morte. Jesus Cristo assume sobre Si o nosso pecado e morre em nosso lugar. No nosso pecado nós matamos a Jesus na cruz. Jesus vence a morte porque Ele é vida, e n’Ele passamos da morte para a vida quando O recebemos. A vida que Ele nos dá é eterna e a morte física não pode vencê-la, antes a vida eterna que Deus nos dá vence a morte física e abre-nos a promessa da ressurreição.
A cruz é o centro do Evangelho. Jesus tomou a forma humana precisamente com essa intenção. O pecado trataria Deus entre nós com a morte, e morte cruenta de cruz. A lógica do pecado foi revertida pela do amor e da justiça. Os homens pecadores não podendo suportar a presença que denunciava o seu pecado, tentaram ver-se livres dela encerrando-se irremediavelmente, dessa forma, numa condenação irreversível. Mas Deus no Seu amor, cumpriu e satisfez a Sua justiça, entregando-se à morte para que por ela pudéssemos ser perdoados e reconciliados com Ele. Deus, na Sua santidade, amor e justiça, e assumindo a natureza humana, triunfou sobre a morte e o pecado que a produz. O Deus-Homem venceu por toda a humanidade. Mistério insondável que o Espírito desvenda a todos os que humildemente se reconhecem pobres de espírito e carentes de perdão.
O homem no seu pecado quer a morte de Deus. No século XX Nietzche haveria de voltar a este assunto, confessando a disposição da humanidade, mas Deus não morre pela segunda vez. A Sua morte ocorreu uma única vez para nossa salvação da morte espiritual e eterna.
O Deus feito homem, no Seu amor e justiça, morre pela humanidade e triunfa sobre ela ressuscitando de entre os mortos. Só por esta morte e ressurreição podemos alcançar vida eterna e triunfar sobre a morte espiritual e eterna.
Já na cruz o escárnio da multidão e dos religiosos condensam a essência do pecado: “Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se. É rei de Israel! Desça da cruz, e creremos nele. Confiou em Deus; pois venha livrá-lo agora, se de facto lhe quer bem; porque disse: Sou filho de Deus.” (Mateus 27:42,43 – JFA). Tivesse Jesus cedido a esta última tentação, todos eles teriam ficado convencidos da Sua identidade divina, mas eternamente perdidos e condenados ao inferno da separação de Deus para sempre. Jesus já dissera antes aos discípulos que se o quisesse pediria ao Pai e mais do que uma dúzia de legiões de anjos seria colocada à Sua disposição: “Acaso pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos?” (Mateus 26:53 – JFA)
Na cruz Jesus é crucificado entre dois malfeitores que se tornam os dois tipos de pessoas que se posicionam perante ela. Os que reconhecem a Jesus como Salvador e n’Ele buscam perdão e certeza de vida eterna, sem qualquer mérito ou virtude. E os que apesar de tudo blasfemam e continuam a viver ofendendo a Deus. É aos primeiros que Jesus estende o perdão e a certeza da vida eterna: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.” (Lucas 23:43 – JFA). Quadro maravilhoso da graça extraordinária de Deus. O que Jesus fez é suficiente. O malfeitor não tinha quaisquer méritos, nem possibilidade de tentar reabilitar-se e assim compensar os anos vividos na prática do mal, semeando o sofrimento nos outros e sobre si mesmo. Já não pode sair da cruz, mas mesmo aí, quando a justiça humana está a ser aplicada de modo justo sobre os prevaricadores e de modo absolutamente injusto sobre o Justo, Deus realiza a Sua justiça em favor de todos os que arrependidos procuram o Seu perdão.
RESSURRECTO
O facto da História sem o qual a fé cristã seria vã é a ressurreição. “E, se Cristo não foi ressuscitado, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.” (1 Coríntios 15.14 – JFA).
O Evangelho está assente nesta realidade única em toda a História do Universo. Jesus ressuscitou vitorioso sobre a morte, sobre o pecado, sobre o inferno, sobre o Diabo e todas as potestades do mal.
A história do inferno, do Diabo e de todas as potestades do mal sempre foi a história da derrota. Deus sempre foi e sempre será soberano.
A ressurreição é para nós o sinal de que a morte vicária e substitutiva de Jesus foi cumprida, aceite pelo Pai e revertida a nosso favor eternamente. Não há mais condenação para todos os que se encontram em Jesus. Isso mesmo leva Paulo a exclamar: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8:1 – JFA).
É com base nessa ressurreição que vivemos como cristãos a nossa vida presente. É desta forma que Paulo ora pela igreja em Éfeso: “Por isso também eu, tendo ouvido a fé que há entre vós no Senhor Jesus, e o amor para com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança dos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. E pôs todas as coisas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas.” (Efésios 1:15-23 – JFA).
E porque Ele ressuscitou nós também ressuscitaremos. Este é o cântico retumbante da celebração que abre a eternidade para todos os que são de Jesus. “Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graça a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Coríntios 15:54-57 – JFA).
A ressurreição de Jesus é a nossa certeza de ressurreição. A expectativa do cristão não é um espírito desencarnado, mas um espírito habitando num corpo incorruptível, que não estará mais sujeito à doença, à velhice e à morte. À semelhança do corpo de Jesus Cristo terá novas propriedades e atributos. Vivemos na expectativa do dia em que tal acontecerá.
TODO-PODEROSO
Antes de voltar ao Pai Jesus declarou que todo o poder Lhe havia sido confiado. “E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mateus 28.18-20 – JFA)
Quem é que alguma vez teve a ousadia de afirmar o que Ele afirmou? Ninguém! Jesus venceu a morte e o pecado em todas as suas manifestações.
Mas o poder de Jesus não pode ser confundido com o poder das armas nucleares ou biológicas, não pode ser confundido com o poder dos déspotas e corruptos, não pode ser confundido com o poder do dinheiro. Este poder não é poder nenhum. Só o poder de Jesus é efectivamente poder, porque do amor, do perdão, da santidade e da justiça. Um dia destes este poder se manifestará em toda a Sua glória. Um dia destes os céus se abrirão e em glória e majestade Aquele que morreu na cruz e ressuscitou, voltará para estabelecer o Seu reino de paz. Ficarão de fora os que não O querem. Deus não obriga ninguém a aceitá-lO!
PROMETEU QUE VOLTARIA
Em muitos e variados momentos Jesus deixou a promessa de que voltaria. A Igreja do primeiro século, neotestamentária, viveu, como toda a Igreja de Jesus ao longo de toda a História, na expectativa da iminente segunda vinda de Jesus Cristo. Ele prometeu que voltaria. Não mais para sofrer na cruz. Mas em glória e majestade para reinar. “Porque assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda do Filho do homem.” (Mateus 24:27 – JFA)
Nessa altura colocará um ponto final na maldade e na corrupção causada pelo pecado. De alguma forma a Sua justiça reiterará a decisão feita por cada um em relação a Ele. Deus fará a vontade dos rebeldes que não O querem. Eles viverão eternamente separados d’Ele.
Por causa dessa expectativa da segunda vinda de Jesus, a vida presente está voltada para o alto: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então vós também sereis manifestados com ele, em glória.” (Colossenses 3:1-4 – JFA).
ESPERANÇA DA GLÓRIA
O apóstolo Paulo ao escrever aos cristãos em Filipos tem esta magnífica declaração: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja; da qual eu fui constituído ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, a fim de cumprir a palavra de Deus, o mistério que esteve oculto dos séculos, e das gerações; mas agora foi manifesto aos seus santos, a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso também trabalho, lutando segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente. “ (Colossenses 1:24-29).
“Cristo em vós, a esperança da glória”. Que síntese extraordinária do Evangelho de Jesus Cristo que nada nem ninguém pode assumir senão Ele. Esta a força que anima a nossa vida, que nos pode levar a enfrentar todas as injustiças, que pode levar-nos a amar os nossos inimigos, que pode levar-nos a perdoar aos que nos ofendem, que nos pode dar perseverança para continuarmos a trabalhar em favor uns dos outros, a servir o próximo em nome de Deus. Não há pessimismo que possa resistir a semelhante realidade. É Cristo em nós que nos dá a energia suficiente para vivermos a cada dia. Foi esta força de amor, de perdão e de serviço que animou os mártires, que lhes deu ousadia e coragem para enfrentar a morte e os carrascos. Foi animados por esta esperança que entraram nas arenas romanas e nos calabouços da cortina de ferro e de bambu. Ainda hoje existem muitos e muitos cristãos que assumem a sua fé nas circunstâncias mais adversas e em meio à hostilidade e à perseguição mais feroz.
A UNIDADE RESTAURADA
Uma das afirmações mais tocantes de Jesus prende-se com o Seu desejo de que estejamos junto d’Ele, unidos a Ele, e unidos entre nós por toda a eternidade. “E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um; eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim. Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço; conheceram que tu me enviaste; e eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer ainda; para que haja neles aquele amor com que me amaste, e também eu neles esteja.” (João 17:20-26 – JFA).
O mandamento do amor emerge de todo o Seu ensino e de toda a Sua missão.
N’Ele é reunido o que o pecado separou. N’Ele é restabelecido o que o pecado rompeu. N’Ele é reconciliado o que o pecado corrompeu. N’Ele é vivificado o que o pecado matou.
Desde já Jesus Cristo é quem nos une e derruba tudo o que dividia e separava. “Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com o seus feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; onde não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre: porém Cristo é tudo e em todos.” (Colossenses 3:9-11 – JFA) “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes baptizados em Cristo, de Cristo vos revestistes. Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3:26-28 – JFA). “Portanto, lembrai-vos de que outrora vós, gentios na carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam circuncisos, na carne, por mãos humanas, naquele tempo, estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede da separação que estava no meio, a inimizade, aboliu na sua carne a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse em si mesmo um novo homem, fazendo a paz, e reconciliasse ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade. E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe, e paz também aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. Assim já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário edificado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.” (Efésios 2:11-22 – JFA)
Essa unidade é visível na Igreja, corpo de Cristo: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo. (…) Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo.” (1 Coríntios 12:12,27 – JFA). “E pôs todas as coisas debaixo dos seus pés e, para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas.” (Efésios 1:22,23 – JFA). Jesus veio constituir a família divina, à qual todos têm possibilidade de pertencer, por meio daquilo que Ele mesmo realizou pela Sua morte e ressurreição. O mundo é governado por elites que usurpam para si uma parte substancial dos recursos e das vantagens, criando profundas clivagens e assimetrias sociais, mas na família de Deus e na eternidade não será assim. Isto não nos leva a encolher os ombros perante a desigualdades à nossa volta. A Igreja desde sempre esteve envolvida no cuidado dos mais desfavorecidos, a maior parte das vezes sendo constituída por pessoas elas também de parcos recursos.
TUDO CONVERGE PARA JESUS CRISTO
É por Ele que Deus o Pai determinou que todas as coisas seriam restauradas. É para Ele que tudo converge. Ele não é apenas o centro da História, Ele é a chave do sentido da História, tudo na História é para Ele que converge e é d’Ele que todo o sentido é atribuído à História: “para a dispensação da plenitude dos tempos, de fazer convergir em Cristo todas as coisas, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra,” (Efésios 1.10 – JFA).
Um dos textos por excelência sobre a pessoa de Jesus Cristo, escrito pelo apóstolo Paulo, faz menção deste plano glorioso de n’Ele serem reconciliadas todas as coisas: “o qual é imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas; também ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio, o primogénito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque aprouve a Deus que nele habitasse toda a plenitude, e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus.” (Colossenses 1:15-20 – JFA).
UMA NOVA ORDEM
Esperamos novos céus e nova terra em que a justiça habitará. “E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já se foram o primeiro céu e a primeira terra, e o mar já não existe. E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve; porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: está cumprido: Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim. A quem tiver sede, de graça lhe darei a beber da fonte da água da vida. Aquele que vencer herdará estas coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho. Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.” (Apocalipse 21.1-8 – JFA).
Não é a morte, a hecatombe, o desastre cósmico, o vazio e o nada eterno que aguardamos. Em Jesus temos a expectativa da vida eterna.
Paulo pelo Espírito tem o arrojo de dizer que se esperarmos em Cristo apenas nesta vida seremos os mais miseráveis de todos os homens. Como estas palavras divergem do pouco ou nenhum valor atribuído à eternidade hoje em dia, algumas vezes mesmo entre certos cristãos. “Se é só para esta vida que esperamos em Cristo, somos de todos os homens os mais dignos de lástima.” (1 Coríntios 15:19)
JESUS A PRÓPRIA VIDA
O Evangelho de João é eloquente acerca de Jesus como a própria vida. Começa logo no prólogo com esta declaração: “Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (João 1:4 – JFA). E termina, no último capítulo, mostrando que o objectivo de todo o Evangelho é fornecer todos os sinais, todas as evidências necessárias para que, crendo em Jesus como Filho de Deus, se receba vida: “Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.” (João 20:30,31 – JFA). Quem não crê pelo que está escrito no Evangelho de João nunca crerá, porque efectivamente não quer crer, não quer aceitar o facto de que Deus se revelou fisicamente entre nós, porque decidiu que não quer aceitar a existência de Deus: Criador, Sustentador, Redentor, Restaurador e Consumador. Deus na Sua graça dispôs-se a ultrapassar todas as nossas objecções e todos os argumentos do cepticismo – viveu entre nós, como homem. Perdidos da vida em toda a sua dimensão, Aquele que é a vida, que criou a vida, que nos deu a vida, veio e deu a Sua própria para que nós recebêssemos por Ele essa vida eterna.
No capítulo catorze encontramos a sublime declaração da identidade de Jesus como o caminho, a verdade e a vida – o único através do qual podemos chegar ao Pai e, já gora, sermos Seus filhos, ou seja, tê-lO de facto como nosso Pai. “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.” (João 14:6 – JFA). Na mesma linha Jesus apresenta-se como o pão da vida, a água viva e a luz da vida: “mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.” (João 4:14 – JFA). “Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.” (João 6:35 – JFA). “Eu sou o pão da vida.” (João 6:48 – JFA). “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.” (João 6:51 – JFA). “Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.” (João 8:12 – JFA).
Inúmeras vezes nós encontramos neste evangelho a declaração de que é n’Ele que temos acesso à vida eterna. Esta verdade é transversal a todo o Novo Testamento em consonância com o Velho Testamento, em sintonia com a verdade de que Ele é Deus e é de Deus que recebemos a vida:
“para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (João 3:15,16 – JFA).
“Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.” (João 3:36 – JFA).
“Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.” (João 5:21 – JFA).
“Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.” (João 5:24 – JFA).
“Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos;” (João 5:26 – JFA).
“Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim; mas não quereis vir a mim para terdes vida!” (João 5:39,40 – JFA).
“Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:40 – JFA).
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.” (João 6:63 – JFA).
“O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (João 10:10 – JFA).
“As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.” (João 10:27,28 – JFA).
“Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?” (João 11:25,26 – JFA).
“Depois de assim falar, Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o Filho te glorifique; assim como lhe deste autoridade sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe tens dado. E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.” (João 17:1-3 – JFA).
Quando nos separámos de Deus perdemos a vida espiritual, vida com abundância, a vida eterna que d’Ele emana e flui. Nada pode substituir esta vida. A vida biológica que recebemos dos nossos pais não nos basta. Precisamos da vida que só Deus nos pode dar. É esta vida, que é o próprio Jesus, de que carecemos e Ele está disposto a dar-nos, se a pedirmos.
A essência do Evangelho aponta para a eternidade. No tempo, hoje, aqui e agora, recebemos já a vida eterna, mas o que dela experimentamos ainda é em parte, só na eternidade usufruiremos de toda a sua plenitude. É por isto que o apóstolo Paulo pode exclamar, a respeito de si mesmo: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1:21). E noutro texto a respeito de todos os filhos de Deus: “Porque sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus. Pois neste tabernáculo nós gememos, desejando muito ser revestidos da nossa habitação que é do céu, se é que, estando vestidos, não formos achados nus. Porque, na verdade, nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos oprimidos, porque não queremos ser despidos, mas sim revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida. Ora, quem para isto mesmo nos preparou foi Deus, o qual nos deu como penhor o Espírito. Temos, portanto, sempre bom ânimo, sabendo que, enquanto estamos presentes no corpo, estamos ausentes do Senhor (porque andamos por fé, e não por vista); temos bom ânimo, mas desejamos antes estar ausentes deste corpo, para estarmos presentes com o Senhor. Pelo que também nos esforçamos para ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque é necessário que todos nós sejamos manifestos diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal.” (2 Coríntios 5:1-10).
Toda a Bíblia nos alerta para a necessidade de considerarmos a nossa vida à luz da realidade da vida que continua depois da morte e que em Jesus Cristo começa logo aqui por ser vida eterna, sendo que a morte física não a pode suspender. A morte espiritual que é a separação do homem de Deus, foi vencida por Jesus e n’Ele podemos receber a vida de espiritual que é eterna.
ARREPENDIMENTO E CONVERSÃO
A mensagem de Jesus há dois mil anos atrás começou com uma interpelação dos homens e das mulheres, dos religiosos judeus e dos pagãos, dos judeus e dos samaritanos, dos judeus e dos gentios, de todos indistintamente, ao arrependimento e à conversão. “Daí por diante passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mateus 4:17 – JFA).
A mensagem da Igreja, surgida no dia de Pentecostes, tem a mesma nota, quando a multidão se interroga sobre o que deve fazer perante os factos da morte e ressurreição de Jesus: “Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo. E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar. E com muitas outras palavras dava testemunho, e os exortava, dizendo: salvai-vos desta geração perversa.” (Actos 2:36-40 – JFA).
A mesma ênfase encontramos em João Baptista, precursor de Jesus,: “Naqueles dias apareceu João, o Batista, pregando no deserto da Judéia, dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 3:1,2 – JFA).
Como necessitamos hoje efectivamente de nos convertermos a Deus, à Sua santidade, ao Seu amor, à Sua graça, à Sua justiça, à Sua misericórdia, ao Seu padrão de vida. Precisamos arrepender-nos do vazio de uma vida sem Deus, de um humanismo balofo e fracassado, a uma vida vivida em Deus e para Deus. Precisamos arrepender-nos de uma vida centrada no materialismo e no naturalismo para uma vida vivida segundo a vontade do Criador. Precisamos arrepender-nos de um relativismo sem bem nem mal, sem certo nem errado, sem verdade nem mentira, para os padrões divinos expressos e vividos na própria pessoa de Deus entre nós – Jesus Cristo. É preciso arrepender-nos de uma vida confinada ao tempo, efémera e passageira, sem horizontes a não ser os da morte, para uma vida eterna que nos é oferecida em e por Jesus. A História humana é suficiente para demonstrar que não vale a pena viver sem a certeza da vida eterna! É preciso inverter o rumo: não viver a caminho da morte, mas no caminho que é vida que permanece. Nem ateus, nem agnósticos, nem religiosos, nem indiferentes, mas Jesus Cristo entre nós servindo-nos a vida eterna!
É preciso arrependimento do pecado e conversão para a santidade divina.
GRAÇA E FÉ, AMOR E ESPERANÇA
Quanto mais o homem é desvalorizado como animal e como máquina, quanto mais a competência é a forma de sobrevivência numa sociedade de competição desenfreada, quanto mais os homens são colocados à margem como lixo quando não servem mais à trituradora do sistema económico, é urgente colocar a nossa atenção e a nossa convicção na graça divina, no Seu amor incondicional. É preciso um outro homem, uma outra sociedade, uma outra família. O paradigma humano não pode ser determinado pela bolsa de valores, pelo cinema ou pelo desporto. O paradigma humano está no próprio Criador que nos fez à Sua imagem e semelhança e se deu a conhecer em Jesus Cristo – Homem perfeito e Deus absoluto.
O cepticismo mata, a fé na fé decepciona, a fé no homem ilude, só a fé em Jesus confere e alimenta a vida eterna.
Nem o determinismo genético, nem o determinismo social e económico, nem o determinismo astrológico, nem o fatalismo materialista e naturalista; mas a esperança que emana de Jesus Cristo. Não há esperança no ateísmo, nem no agnosticismo, nem na religiosidade humanista, nem na indiferença secularizada. Em Jesus temos a esperança da glória: “Cristo em vós, a esperança da glória.” (Colossenses 1:27 – JFA).
A GLÓRIA DE DEUS
Em Jesus Cristo somos expostos à glória de Deus. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigénito do Pai.” (João 1:14 – JFA).
Se o pecado nos destituiu da glória de Deus, conforme declara o apóstolo Paulo: “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 6:23); a graça de Jesus nos restitui a essa glória da qual o homem foi originalmente vestido e pelo pecado despido: “E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2 Coríntios 3:18 – JFA).
Jesus voltará em toda a Sua glória: “Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória.” (Lucas 21:27 – JFA); e nós O veremos, como Pedro, Tiago e João O viram no monte da transfiguração: “Seis dias depois, toma Jesus consigo a Pedro e aos irmãos Tiago e João, e os leva, em particular, a um alto monte. E foi transfigurado diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz.” (Mateus 17:1,2 – JFA); e como João O viu no dia do Senhor, em visão, quando deportado na Ilha de Patmos: “Voltei-me para ver quem falava comigo e, voltado, vi sete candeeiros de ouro, e, no meio dos candeeiros, um semelhante a filho do homem, com vestes talares, e cingido à altura do peito com uma cinta de ouro. A sua cabeça e cabelos eram brancos como a alva lã, como neve; os olhos, como chama de fogo; os pés semelhantes ao bronze polido, como que refinado numa fornalha; a voz como a voz de muitas águas. Tinha na mão direita sete estrelas, e da boca saía-lhe uma afiada espada de dois gumes. O seu rosto brilhava como o sol na sua força. Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último, e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno.” (Apocalipse 21:12-18 – JFA).
Diante deste quadro apenas podemos fazer coro com as últimas exclamações da Bíblia Sagrada: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente venho sem demora. Amem. Vem, Senhor Jesus.” (Apocalipse 22:20 – JFA). Até lá continuemos a segui-lO em fé, no amor, no perdão e no serviço a Ele, uns nos outros: “Portanto, meu amados irmãos, sede firmes, inabaláveis, e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que no Senhor, o vosso trabalho não é vão.” (1 Coríntios 15:58 – JFA).
Samuel R. Pinheiro