domingo, 5 de fevereiro de 2012

Exército nas ruas passa segurança e cidade vive dia mais tranquilo

A presença das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança nas ruas fez o número de ocorrências policiais cair bastante com relação à sexta-feira
Álvaro Andrade
alvaro.andrade@redebahia.com.br
Quem caminhasse na ensolarada manhã de ontem pela orla de Salvador avistaria, além das belas praias, homens de fardas verdes e ostensivamente armados. São soldados do Exército, que chegaram para reforçar a segurança do estado, em cheque desde a greve de policiais anunciada na terça-feira.
A presença das Forças Armadas e da Força Nacional de Segurança nas ruas fez o número de ocorrências policiais cair bastante com relação à caótica sexta-feira, e a sensação de insegurança diminuiu.
Soldados do Exército reforçaram a segurança no Farol da Barra durante o sábado ensolarado: população continua apreensiva mas sábado foi bem mais tranquilo do que sexta-feira
Nem isso, porém, bastou para que baianos e visitantes voltassem a frequentar normalmente os famosos pontos turísticos da capital. As lojas abriram as portas, mas as praias. embora não estivessem vazias, tiveram menos frequentadores do que o esperado para um sábado de sol.
Às 10h, na frente do Farol da Barra, oito PMs, reunidos perto de duas viaturas, conversavam e liam o jornal. Soldados do Exército cuidavam da segurança. Mas tinha quase mais ambulantes do que turistas.
“Ao normal mesmo não voltou, não. Estamos na alta estação, e olha como tá. Ontem (sexta) vieram só três vendedores”, afirmou o ambulante Flaviano de Jesus, 42 anos.
A maioria dos poucos turistas que passeavam pelo local vinha em excursões. “Ontem (sexta) tivemos problema pra tirar o pessoal do hotel, só 20% saiu. Hoje eles se sentiram mais à vontade, porque a gente sabe que tem segurança”, contou a guia turística Rosânia Saback, 46.
“Não deixamos de sair, mas ontem (sexta) fomos a um bar e tava super vazio. O garçom disse que não era normal”, diz a dentista Kiev Goulart, 30, turista do Rio Grande do Sul, que passeava pela cidade com três amigos.
Como o bar na noite de sexta, a praia da manhã de sábado também estava vazia. “O movimento tá fraco, pessoal tá com medo de sair pra rua”, opinou Antônio Alves, 57, que há 41 tem uma barraca na praia do Farol.
 Alguns metros à frente, no Porto da Barra, a situação era a mesma, ainda que a praia parecesse mais cheia. “O movimento tá uns 70% a menos. O normal numa hora dessas era eu já ter vendido um freezer de côco. Até agora só vendi uns quatro”, avalia a barraqueira Quitéria Macário, 52.
Pelourinho
Seguindo em direção ao Pelourinho, uma parada na Av. Sete, por volta do meio-dia. Todas as lojas estavam abertas, mas o movimento nem se comparava ao habitual formigueiro das manhãs de sábado.
“Está fraquíssimo. Nesse horário já era pra eu ter vendido uns R$ 10 mil, mas não vendi nada ainda. A loja vende R$ 120 mil no sábado, e até agora não vendeu nem 10% disso”, afirmou um vendedor da Casas Bahia que não quis se identificar. “Aqui na frente fica cheio de camelô. Olha hoje como tá”, completou, apontando a calçada vazia.
Quem apareceu, disse que foi porque não tinha alternativa. “Vim por necessidade mesmo, para comprar o material escolar de meu filho, porque as aulas começam segunda. Mas não vim com segurança”, diz a auxiliar administrativa Almira Castro, 40.
No Pelourinho, a movimentação também era menor que o habitual. “Se tiver muito, tem 30% dos turistas. Só tão vindo os grupos com guias, mas passante não tá vindo ninguém”, contou o garçom de um restaurante.
Desde a quinta-feira em Salvador, um grupo de oito recifenses não se intimidou e foi visitar o Pelô. “Ficamos preocupados, mas se a gente deixasse de sair seria pior”, explicou o analista de projetos Marcelo Botelho, 26.
A professora Regina Scherer, 51, e o filho João Pedro, 13, também passearam normalmente. “Chegamos na terça, e eu não vi nada ainda. Tem policiamento nas áreas turísticas, para turista ver e se sentir seguro”, disse a professora.
João Henrique volta e cria gabinete de emergência
Quatro dias após o início da greve da Polícia Militar, o prefeito João Henrique, que estava no Rio de Janeiro em viagem oficial, retornou a Salvador e, em reunião com o vice Edvaldo Brito e secretários municipais, implantou o Gabinete de Emergência, que funcionará na Companhia de Governança Eletrônica de Salvador (Cogel).
“Estamos aqui auxiliando o Governo do Estado. Essa sala tem 46 câmeras monitorando a cidade. Dá um certo conforto à população”, afirmou o prefeito. Ele garantiu ainda que a Transalvador continuará trabalhando, e que a iluminação pública foi reforçada nas Companhias da Polícia Militar onde há armamentos. Além disso, a iluminação do Carnaval será ligada onde já tiver sido instalada. “Em termos de segurança, estamos fazendo o dever de casa”, garantiu João Henrique.
De acordo com sua assessoria, o prefeito entrou em contato com o governado do Estado, Jaques Wagner, e o Secretário de Segurança Pública, Mauricio Barbosa, disponibilizando toda a estrutura municipal a serviço da Força Nacional de Segurança. Além das medidas, o prefeito anunciou que a sala ficará à disposição da imprensa baiana, com computadores, TV e internet.
Wagner: eles fizeram banho de sangue
Luciana Rebouças

O governador Jaques Wagner enfatizou ontem que os policiais grevistas promoveram ‘algum’ banho de sangue e tratou como crime as ações promovidas pelo grupo. “Se alguém depreda ônibus, se alguém depreda o carro da polícia, se alguém sai na rua atirando para cima, se alguém, que eu não posso acusar, atira e mata moradores de rua, qualquer coisa desta é crime, independente de quem o cometeu, sob a desculpa de por que o cometeu”, afirmou o governador em coletiva, ontem de manhã, na Base Aérea.
“Não me submeto ao crime organizado, a alguém que está com a arma em punho para tentar submeter a democracia”. O governador lembrou que o grupo protocolou a pauta de negociações durante a última semana e saiu diretamente para a Assembleia, onde estão desde quarta-feira. “Protocolaram a dita pauta cujo primeiro ponto era a anistia, pressuposição de que estavam dispostos a fazer barbaridade e vandalismo”, disse.
Wagner negou, porém, que vá invadir a Assembleia. “As pessoas estão falando em banho de sangue, mas banho de sangue só se for de lá para cá. Aliás, algum banho de sangue já foi promovido na cidade por eles”, afirmou. Mesmo negando a invasão, Wagner disse que tomará medidas. “Não posso ficar permitindo que ali seja um núcleo de comando de saída de quem vai fazer vandalismo na cidade. Tem uma guerra estabelecida aqui. Evidente que eu não vou trazer as forças federais para cá para ficar admirando o que eles estão fazendo”, acrescentou.
Sobre o elevado número de homicídios, o governador admitiu que parte dos crimes pode ser da própria operação montada pelos grevistas. “É uma tentativa de guerra psicológica”. O comandante-geral da PM, Alfredo Castro, afirmou no fim da tarde que só negociará com o grupo quando a greve for encerrada.