sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Representantes de 15 entidades turísticas criticam prefeito em carta aberta

O documento relata o trajeto de encontros e promessas do prefeito, que em reunião com o trade turístico há sete anos, chegou a projetar imagens de como seriam as novas barracas de praia
JOÃO HENRIQUE DERRAMOU LÁGRIMAS DE CROCODILO
Laís Vita
lais.vita@redebahia.com.br
Os visitantes e moradores de Salvador já reclamam faz tempo. E, por entender que “foram ultrapassados todos os prazos de tolerância capazes de resistir à necessidade de uma afirmação incisiva”, o Conselho Baiano de Turismo (CBTur) decidiu tornar pública a indignação com a gestão da cidade e enviou ontem uma carta aberta ao prefeito João Henrique, pedindo ações.
A extensa carta, assinada pelos diretores das 15 entidades representativas de todos os segmentos do turismo, afirma que é possível, com um “superficial exame na situação da capital”, notar que ela “exibe uma condição de deterioração dos seus principais atrativos”. Para a CBTur, a situação está “distante de iniciativas reais que lhe possam indicar caminho para solução”.
O documento relata o trajeto de encontros e promessas do prefeito, que em reunião com o trade turístico há sete anos, ainda no início de sua primeira gestão, chegou a projetar imagens de como seriam as novas barracas de praia e afirmou que iria “fazer da orla de Salvador mais bonita do que a de Miami”.
Utilizando termos como “desalentador” para caracterizar a situação, a carta afirma que “nenhuma daquelas profecias se consumou, porque foram esquecidas”, e que há ainda por parte do setor “um fio de esperança” para que sejam iniciadas “ações concretas, reais e objetivas”.
A carta enumera e aponta a necessidade de atenção por parte da gestão municipal para os locais conhecidos como “Sete Pontos Mágicos” de Salvador, entre eles o Parque do Abaeté, Farol da Barra, Centro Histórico, Dique do Tororó e Baía de Todos os Santos.
Para o presidente do CBTur, Silvio Pessoa, a carta foi um recurso adotado para uma situação “intolerável”. “Precisamos que eles façam os serviços para o qual foram eleitos ou contratados para fazer”, ressaltou. Pessoa afirma que ações têm sido cobradas constantamente, mas a prefeitura não tem dado retorno. “As coisas continuam do mesmo jeito, ou piores”.
Campanha
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Pedro Galvão, João Henrique chegou a chorar numa reunião com membros do Conselho durante sua campanha de reeleição. “Ele chorou, disse que não tinha atendido o prometido da primeira gestão e foi quando prometeu que faria a orla como a de Miami”.
O tempo passou e o prefeito se tornou cada vez menos acessível. “Tentamos audiência, falamos com secretários de maneira pessoal, sem imprensa, mas como as coisas continuaram a piorar tivemos que tomar essa atitude”, explica.
 Para o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Cláudio Tinoco, os argumentos do CBTur são legítimos, mas a responsabilidade pelos problemas da cidade deve ser compartilhada. “Pelo menos quatro pontos mágicos, têm ação direta de outros entes. A Baía de Todos os Santos, por exemplo, é território de 18 municípios. O Parque do Abaeté deveria ter atuação de orgãos estaduais, como o Inema e a Conder”, diz Tinoco. “O Dique do Tororó teve a sua última intervenção em governos passados e o Centro Histórico tem atuação compartilhada. E a segurança pública não foi abordada”, completou.
O secretario de Turismo do estado, Domingos Leonelli, se mostrou cauteloso em comentar assuntos que dizem respeito à gestão municipal, mas afirmou que “não dá para desconhecer os sérios problemas de Salvador. Ouvi de uma tradicional operadora de turismo que os visitantes estão preferindo cada vez ir direto para a Praia do Forte”.