JESUS CRISTO MUDOU MEU VIVER
Não julgueis, para que não sejais julgados
É natural ao ser humano se pôr na posição de vítima ou de quem tem razão em toda e qualquer situação. Eu e você carregamos o hábito de nos defendermos em tudo: o culpado é sempre o outro. Esse é um mecanismo de defesa, uma forma de nos justificarmos aos nossos próprios olhos. Por isso, quando Jesus manda “não julgar”, está tocando em uma área sensível do nosso ser: o hábito de acharmos que sempre estamos certos e os outros, errados. Eu sou assim, você é assim, todo ser humano é assim; somos cheios de traves nos olhos mas sempre pomos em evidência o argueiro no olho alheio. O problema é que, para Deus, isso faz de nós hipócritas. E, como ele nos ama, de vez em quando nos dá uma sacudida para que nos ponhamos em nosso devido lugar.
O que Jesus disse você já sabe, mas não custa ler uma vez mais: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt 7.1-5).
Ou seja: nós erramos, erramos, erramos e, ainda assim, nos pomos na posição de quem tem todo o direito de só ficar apontando o erro do outro. E esse é o problema. Perceba algo interessante: Jesus não critica tanto o fato de termos a trave no olho. Isso é ruim, claro. Mas o mal maior é acusarmos o próximo tendo nós a trave no olho. Ele condiciona a possibilidade de criticar o outro a primeiro resolvermos o nosso erro. A trave é esperada, dada nossa humanidade. Já a acusação é leviana.
Uma jovem senhora começou a trabalhar em minha casa. Duas vezes por semana ela vem para limpar, cozinhar, lavar roupa – os serviços domésticos básicos. Essa irmã em Cristo desempenha com muita competência suas tarefas. Só que começou ter certas atitudes que passaram a me deixar bem incomodado. A principal é que tira absolutamente todos os fios da tomada quando executa seu serviço. Ao final do dia, depois que ela vai embora, sou obrigado a percorrer a casa recolocando na tomada montes de fios e reprogramando diversos aparelhos eletrônicos. Confesso que não gosto de bagunça nem de coisas fora do lugar, então você pode imaginar o incômodo que isso me causa. Comecei a ficar chateado. Comecei a murmurar.
Foi quando aconteceu algo que piorou a forma como eu via o argueiro no olho dela: aquela mulher passou a sair mais cedo do que o horário combinado. Um dia, vinte minutos; no outro, trinta. Quarenta. Não estava legal. Desorganizada. Preguiçosa. Mentirosa. Astuta. Desrespeitosa. Adjetivos sobre ela não faltavam na minha mente. Até que, finalmente, foi preciso confrontar essa má profissional, essa pessoa maligna, que estava fazendo tudo errado. Essa… pecadora. Que absurdo, ficar desorganizando toda a casa! Tirando tudo do lugar. Desprogramando meus eletrodomésticos. Onde está o respeito pelas minhas coisas e pela minha maneira de ser? A chamei para conversar. E aí veio o terrível puxão de orelha de Deus, na forma de uma resposta:
- É que… eu tinha um filho de 12 anos, sabe? Ele… morreu. Eletrocutado. Morreu quando segurou o fio de um ferro elétrico. Desculpe… depois disso passei a ter muito medo de mexer em fios.
Não sei dizer o quão miserável me senti. Injusto. Desumano. Percebi que um capricho pessoal tinha sido muito maior do que o amor pelo próximo. Fui leviano e murmurei contra uma pessoa sem ter averiguado as justas razões de suas atitudes. Eu poderia ter sido mais amoroso, compreensivo e calmo. Poderia ter me perguntado as causas que levaram aquele ser humano a fazer aquilo. Mas não. Julguei, acusei, pequei. O argueiro no olho dela me incomodou tanto que pus uma trave do tamanho do mundo no meu. Miserável homem que sou. Absolutamente constrangido pela minha falta de tato, fui sacudido pela tragédia que abalou a vida daquela jovem senhora. Mas o pior ainda estava por vir. Sabe a questão de ela sair mais cedo? Eu, insensível àquele ser humano, não me dei conta de que ela estava enfrentando uma profunda depressão. Ela explicou:
- Descobri que estou com câncer no útero.
Eu quis morrer. Ou, no mínimo, enfiar a cara no primeiro buraco que encontrasse. Não enxerguei o drama daquela mãe que, não bastasse ter perdido seu filho de maneira tão trágica, agora enfrenta uma batalha por sua vida. Ela recebeu o diagnóstico e guardou para si, continuou calada, executando suas tarefas, sofrendo em silêncio. Já eu fui egoísta, só pensei nas minhas coisas. Reduzi tudo a rótulos e adjetivos em vez de investigar com amor as origens e as causas daqueles comportamentos. Fui torpe. Meu Deus, como fui torpe…
Meu irmão, minha irmã, é muito fácil tentarmos explicar comportamentos humanos por trás de adjetivos pré-fabricados. “Sem-vergonha” muitas vezes é uma maneira conveniente de rotular alguém que vive traumas, conflitos internos e profundas questões existenciais. “Sem caráter” é um modo raso de acusar uma alma que pode ter cometido erros em momentos de vulnerabilidade. “Carnal” é a saída mais fácil para etiquetar alguém que muitas vezes tropeçou por complicadas situações em sua vida. E assim por diante. Temos de parar de atribuir maldade às pessoas por não investigar direito as raízes de suas atitudes e as situações que as originaram. Às vezes, tudo o que se faz necessário é diálogo e amor. Pois não acredito que Deus deseja que fiquemos julgando e acusando os outros. Quer que ajudemos vidas desestruturadas a reencontrar o prumo. Rotular e abandonar gente com argueiros nos olhos é a saída mais fácil e covarde que existe.
De um lado, uma mulher traumatizada que perdeu o filhinho de modo trágico e que vive o drama de um câncer. Do outro, um blogueiro injusto, desumano, julgador, mais preocupado com pequenas besteiras do que em buscar saber as causas por trás de um comportamento nem tão grave assim. Julgar é mais fácil. Rotular é mais fácil. Errar é mais fácil. Acusar é mais fácil. Pecar é a coisa mais fácil do mundo. O argueiro daquela mulher estava em seus olhos devido ao acúmulo de lágrimas. A minha enorme trave estava nos meus pelo acúmulo de olhares acusadores e pecadores de minha parte.
Pedi perdão a Deus por meu julgamento réprobo e vergonhoso. Aprendi uma importante lição. Compartilho com você meu aprendizado. Não julgue uma madeira pelo verniz, meu irmão, minha irmã. Um móvel tosco pode ser de madeira nobre, outro lindo pode estar podre por dentro e carcomido pelos cupins. Busque saber. Tente entender o que leva alguém a tomar atitudes negativas aos teus olhos. Muitas vezes há explicações que você nem imagina. Por trás de um “sem-vergonha” muitas vezes há um enfermo, de corpo ou de alma. Por trás de um “sem caráter” muitas vezes há alguém que foi abusado na infância e carrega marcas emocionais profundas. Por trás de um crente “carnal” muitas vezes há um indivíduo solitário, triste e desorientado que necessita urgentemente de carinho e orientação. E por trás de um “pecador” muitas vezes há simplesmente um ser humano que se encontra distante de Cristo porque eu e você não fizemos nada para aproximá-los.
Sei disso porque, por trás de pessoas que escrevem textos vez por outra edificantes, há frequentemente pecadores que carregam gigantescas traves em seus olhos. Pode acreditar.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício