O PERIGO DA MENTIRA Ananias e Safira
"Melhor é que não votes do que votes e não pagues" (Ec 5.5).
A generosidade é uma virtude valiosa, mas somente se for acompanhada da sinceridade.
O que os discípulos fizeram, doando seus bens, vendendo suas propriedades e trazendo o dinheiro para os apóstolos administrarem, era um sacrifício agradável ao Senhor. Era tudo que eles possuíam na vida, mas não hesitaram em doar o que tinham para a obra de Deus. Ananias e Safira também desejaram compartilhar dessa generosidade, mas eram hipócritas e pagaram com as próprias vidas.
PROPÓSITO DE ANANIAS E SAFIRA
1. A Bíblia descreve a verdade.
Uma das grandezas da Bíblia é que ela registra até mesmo as fraquezas de seus heróis. Documenta atos que são contra a mensagem que ela propaga. Isso acontece, porque ela é a infalível Palavra de Deus. Portanto, fala a verdade. Além disso, revela a debilidade do gênero humano, mostrando que nenhum homem é perfeito.
2. Uma iniciativa voluntária.
Em At 2.47 e 4.34, ficamos sabendo que "todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos". Dentre eles, destacou-se Barnabé, o único citado nominalmente, exceto Ananias e Safira, por causa de sua hipocrisia. O casal fez um voto, não o cumpriu, mas queria que a Igreja pensasse que o mesmo fora concretizado. Isso se chama hipocrisia.
3. Generosidade sincera.
O ato generoso de Barnabé repercutiu entre os irmãos. Ninguém era obrigado a vender suas propriedades. A mãe de João Marcos, o sobrinho de Barnabé (Cl 4.16),possuía uma casa em Jerusalém (At 12.12) que servia como lugar de culto e reunião de oração. O texto sagrado afirma que eles venderam "uma propriedade" (v. 1). Não diz qual o seu tipo e nem o seu valor. Também não deixa explícita a atitude estranha desse casal. Os expositores da Bíblia, quase que em voz uníssona, admitem que Ananias e Safira queriam crédito e prestígio de algo que não praticaram. Desejavam ser honrados como Barnabé.
A OFERTA RECUSADA
1. Ofertas são sacrifícios.
Caim e Abel eram filhos de um mesmo casal, receberam a mesma instrução religiosa e foram criados no mesmo ambiente (Gn 4.1,2). Todavia, um era crente e o outro incrédulo. Ambos fizeram uma oferta a Deus (Gn 4.3-3). Por que o Senhor recusou a de Caim? Por se constituir de cereais? Certamente que não. Essas dádivas, foramposteriormente prescritas na lei de Moisés (Nm 15.4-9).
2. Ananias e Safira: um casal reprovado.
A aparente generosidade de Ananias não foi um ato de fé. Além disso, parece que ele não fez negócio ilícito, pelo que se conclui do verbo grego nosphizomai (traduzido por reter), nos versículos 2 e 3, o qual, no Novo Testamento, só aparece aqui e em Tito 2.10 (traduzido por defraudar). "Reter" é no sentido de "subtrair". O mesmo verbo aparece em Josué 7.1, na Septuaginta, quando declara que Acã "tomou do anátema".
O JUÍZO FULMINANTE
1. Um juízo implacável.
Muitos leitores da Bíblia ficam perplexos com esse juízo tão duro, vindo da parte de Deus sobre Ananias e Safira. Alguns expositores bíblicos têm procurado atenuar a narrativa com interpretações inconsistentes, considerando este registro um exagero por parte de Lucas. Mas tais argumentações não resistem à exegese sagrada. O fato aconteceu como está escrito.
2. O sepultamento de Ananias.
A sentença foi instantânea: "E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou" (v. 5). Imediatamente, foi providenciado o sepultamento: "E, levantando-se os jovens, cobriram o morto e, transportando-o para fora, o sepultaram" (v. 6). Esses rapazes não são os fossarii (coveiros que surgiram posteriormente para o sepultamento dos cristãos), mas eram moços crentes que estavam presentes.
3. Três horas depois.
"E, passando um espaço quase de três horas, entrou também sua mulher, não sabendo o que havia acontecido" (v. 7). Três horas depois, aparece Safira, sem saber de nada. Seu marido já havia sido sepultado. Talvez os jovens nem tivessem voltado. Com certeza, ela estava indo para a oração.
Se as orações públicas eram às nove da manhã, ao meio dia e às três da tarde, como se conclui de Sl 55.17, Dn 6.10 e At 3.1, três horas depois, a "piedosa" e "devota" senhora vinha oferecer seu "sacrifício", esperando ser honrada como uma irmã generosa, que deu espontaneamente tudo o que tinha para a obra de Deus. É um cenário de causar espanto. Isso mostra quão seriamente devemos levar a obra de Deus.
4. A surpresa no Tribunal de Cristo.
No Tribunal de Cristo muitos esperarão ser galardoados. No entanto, quando suas obras passarem pela prova do fogo, sofrerão detrimento, porque serão madeira, feno e palha (1 Co 3.12-15). Aí está o valor da sinceridade e a preciosidade da honestidade. Devemos saber que, onde estivermos, Deus nos estará vendo.
5. Não vale a pena ser infiel.
Custava para Safira falar a verdade? Mas o desejo de ser importante, o amor ao dinheiro, a obstinação pelo status cegaram completamente, tanto a Safira como a seu marido Ananias: "Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo" (1 Jo 2.6). Eles foram contaminados por esse vírus.
O TEMOR SOBRE A IGREJA
1. A Igreja.
É a primeira vez que a palavra "igreja" aparece no livro de Atos. "E houve um grande temor em toda a igreja e em todos os que ouviram estas coisas".
O vocábulo "igreja" é originário da palavra grega ekklesia. Vem de ek, uma preposição que significa "de, dentre, de dentro de", e klesia, de kalesis, que significa "chamada, convocação".
2. O impacto do juízo divino.
O Cristianismo estava começando, e a hipocrisia dos fariseus precisava ser erradicada, pois a Igreja é um grupo escolhido pelo Espírito Santo: "Um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tt 2.14). É a Noiva de Cristo (2 Co 11.2). Ele deu a vida por ela (Ef 5.25). É o que Jesus tem de precioso.
3. Perderam a vida física.
Situação similar encontramos no Antigo Testamento, com o sacerdote Eli. Deus disse a Samuel que haveria de trazer um juízo inexorável sobre Israel e sobre a casa deste sacerdote: "Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que a ouvir lhe tinirão ambas as orelhas" (1 Sm 3.11).
4. A lição que devemos aprender.
O juízo de Deus nem sempre se manifesta dessa maneira. Por isso, há os que não levam a sério a obra do Senhor.
Existem os que praticam algo muito mais grave que o referido casal e, no entanto, Deus ainda está dando a oportunidade para a reconciliação. Entretanto, se os que estão nessa situação continuarem trilhando a senda da malícia, da hipocrisia, da fraudulência, amanhã poderá ser muito tarde. A Bíblia diz: "Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulentamente" (Jr 48.10).
CONCLUINDO
A morte fulminante desse casal deve levar cada crente a refletir seriamente sobre a Igreja de Cristo. Os que trilham pelo mesmo caminho, e a justiça divina ainda não veiosobre ele, é porque Deus está dando a oportunidade para o arrependimento. A porta ainda está aberta. Que o Senhor possa livrar o seu povo dessa hipocrisia!
1. De nada adianta tentarmos enganar a liderança da Igreja, pois ela é conduzida pelo Espírito Santo, o qual, através de sua Onisciência, contempla todas as coisas. Se não somos castigados, imediatamente, pelos graves erros que cometemos, é porque Ele espera o nosso arrependimento.
2. Muitos acham que, através de um bom presente, concedido a uma pessoa influente na Igreja, poderio galgar uma posição melhor no ministério. No entanto, esta prática é condenada pelo Senhor, que não deixará impune esta atitude mesquinha. No tempo certo, Ele agirá com justiça.
3. E melhor agradarmos a Deus, com as nossas atitudes sinceras, do que aos homens, por intermédio das muitas falcatruas existentes. Ananias e Safira não teriam perdido a vida, se soubessem que estavam mentindo ao Espírito Santo, que não se deixa enganar, e não aos homens.
Bibliografia E. Soares