Doutor Ércio Quaresma, o senhor poderia parar de roncar e se aproximar para acompanhar o depoimento de seu cliente?’. É a terceira vez na semana que a juíza do Tribunal de Júri de Contagem, Marixa Rodrigues, chama a atenção do advogado, que está refestelado numa nos fundos do plenário dormindo há mais de meia hora. Enquanto isso, seu mais renomado cliente em 20 anos de profissão depõe, na condição de mentor do crime que chocou o País, em junho. O goleiro Bruno, ex-capitão do Flamengo, olha para trás e ri. “Excelência, fique tranquila que na hora de perguntar, se repetir alguma das perguntas já feitas por vossa excelência, eu me calo”, responde fazendo graça, mas num certo tom desafiador. Na sua vez, Quaresma não repete uma pergunta sequer. Uma capacidade de concentração que impressiona, especialmente para alguém que confessa ser viciado em drogas desde 15 anos: “Minha capacidade intelectual é incrível, porque a quantidade de cocaína que eu já cheirei nessa vida...”. Ércio Quaresma Firpe, 46 anos, diz que o vício começou com maconha e não parou mais. Em 2003, mergulhou no submundo do . Agora, no foco do caso Bruno, em que adotou a tática do enfrentamento — ridicularizando delegados, promotores e a própria vítima, Eliza Samudio —, despertou a ira de desafetos. A ponto de um suposto vídeo, em que ele apareceria consumindo crack numa boca de fumo de Belo Horizonte, ter virado item de leilão entre emissoras de . A imagem não foi ao ar, mas o advogado já tem a resposta na ponta da língua: “Se fumo, cheiro ou dou a bunda, o problema é meu”. Uma frase que ele já soltou ao num programa de TV. “Prefiro falar ao vivo, porque não tem como cortarem o que estou dizendo”, gosta de repetir.
Já no pátio do Tribunal de Contagem, entre um cigarro e outro, logo após as 11 horas de depoimento de Bruno, Quaresma, enfim, não ri nem faz . “Sou dependente de crack há sete anos. Estou me tratando com o maior psiquiatra do País em dependência química, e tive algumas recaídas. Mas nunca entrei num plenário doidão”, desabafa. Foi numa dessas recaídas que o teriam filmado fumando a pedra, dia 29 de outubro: “Sei disso, fizeram lá na (favela) Ventosa. Tô ligado! Mas quantas e quantas vezes fiquei doidão, jogado pelos cantos das cracolândias?! Em Brasília eu apaguei, me roubaram anel, relógio, tudo”. Quaresma não esconde que um de seus objetivos quando aceitou pegar a causa de Bruno era ter os holofotes para si. Durante a investigação, interrompeu uma entrevista coletiva do diretor do Departamento de Homicídios, delegado Édson Moreira, e disse: “Nesse picadeiro aqui só tem um palhaço, que sou eu”.
ISTO É UMA VERGONHA PARA A OAB.
MARCOS RIBEIRO/THE RETURN
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MARCOS RIBEIRO/THE RETURN